E há aqueles momentos em que parece não termos
amigos e sim apenas conhecidos.Pegamos uma agenda(algo meio fora da moda) ou a
lista no celular, com o teclado varrendo os nomes na memória, uma vontade de
ligar para alguém, no fundo sentindo não confiar em ninguém.Pensamos: talvez o
problema não seja os outros e sim apenas eu mesmo.Tudo parecendo um reflexo de
espelho, uma realidade que vemos mas está de um outro lado dessa vida, um
avesso dessa realidade que observamos, vemos mas descremos.Podemos fazer coisas,
sair por aí, buscar alguma forma de contato, aquém da alma, além da alma, além
das frases feitas de sempre, a resposta pronta na língua: sim, tudo bem, vou
indo, tudo beleza.Mas aquém do que se sonha enquanto beleza, incomunicabilidade
na excessiva comunicação disponível.Ou talvez tudo não passe de ilusão, as
próprias amizades, no torpor de suas
presenças de convívio.O que sou, além do mero sonho de comunicação do
incomunicável, no grande festim de conveniências sociais, tão inconvenientes
para as necessidades mais fundas, além do álcool, da diversão e do sexo seguro-
se é que sexo pode ser seguro, podendo abrir as portas do céu ou do inferno-
nos vasos incomunicantes com que se tece o grande retábulo do mundo social.
Sim, momentos estes que passam, e
passarão, como o vento passa, como a simples água turva que se observa aflita
correndo na sarjeta da rua, na sarjeta da própria existência.Tudo tão banal e
podendo se encher de tanta grandeza, a fragilidade de tudo, do corpo, do
coração e das relações.O mundo, o lá de fora, parecendo pequeno demais para a
vastidão do outro, aquele aqui de dentro.
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