Confesso que pertenço a esta estirpe de chatos que procura analisar tudo, todos os fatos, todos os eventos, principalmente aqueles que se apresentam como novidades.Pertencente, talvez, à última geração que sofreu algum tipo explícito de repressão sexual, vejo os novos comportamentos de forma positiva, as formas de tolerância como sendo coisas extremamente benéficas para uma vida melhor.Uma questão de estatura política, por sinal.Comum está agora casais de namorados dormirem nas casas dos familiares.Inviável pensar em algo parecido há pouco mais de trinta anos.Pelo menos, nesse país.Lembro-me de que, lá pelos idos dos anos oitenta, levar namorada para casa só quando a família saísse de féria.E todas as pistas deviam ser apagadas, senão....Claro que a hipocrisia descontava alguns excessos.Conhecia uma ou outra família, de mentalidade mais liberal, que aceitava a prática.Mas eram raras.
Esses namoros "caseiros", sob os auspícios da família, de fato, têm
implicações que vão além das questões de segurança, além das questões
econômicas.Afinal, não era Reich, no Combate Sexual da Juventude, que
abordava esta questão "dramática" e econômica sobre a locação do
convívio afetivo e sexual?Antes, fazia-se a corte em casa;hoje, já se
podem fazer outras coisas, ainda que de forma não muito escancarada,
mais conveniente.Será que, por outro lado, não seria alguma forma
indireta de controlar o desejo?Eu me lembro muito das discussões de
Marcuse sobre a sociedade afluente e as formas de controle sobre a
libido, a tal da dessublimação repressiva.Na época eu era jovem e não
entendia muito bem a conceituação; precisaria de mais leitura de Freud
para entendê-la,mais amadurecimento.Inclusive mais sentido da morte,
já que para o mais jovem, em geral, a morte é uma abstração, algo mais
viável para os outros, não para ele.Mas percebo, no contato social,
principalmente com os mais jovens, uma certa aflição em afirmar o
desejo como se este fosse um pré-requisito de sociablilidade.Algo
próximo do status social.O desejo compra-se na farmácia, nos
shoppings, na bebida ou nas drogas ditas ilícitas.Ledo engano, não é
mesmo?Um outro tipo de desejo, pós-moderno. Um desejo sem alma?Mas
como desejar sem sofrer?Mas, pelo menos, ainda vejo muita mulher
sofrendo por amor.Ufa, que alívio!
Sim, um outro tipo, outra forma do velho desejo, de velho conteúdo
de outras eras.Não como forma de transgressão, mas sim de
normalização.Aí eu me pergunto: se toda a energia psíquica tem
característica meio polimórfica, assim ocorreria com a libido a mesma
coisa.E se todo o desejo tiver alguma forma de ligação com a
libido(acho que Freud concordaria, Jung poria, provavelmente,
reservas), então nesse mundo de aflição pela decadência do desejo,
nesse mundo tão aparentemente "libidinoso" por meio de estímulos
comerciais, de sexualidade mais fácil(cult?), estaria o próprio
desejo fenecendo?.Ou ele estaria sendo raptado por algo, por alguma
estrutura sócio-cultural?Noto muito nas mulheres, depois dos trinta e
cinco ou mais, um certo discurso de afirmação de normalização, menos
de busca da emancipação do desejo.Este parece que vira uma mercadoria
de porão.Os desejos acabam sendo muito relacionados com a profissão.E
o sonho de casamento( não de jornada; todo relacionamento constante é uma jornada, uma aventura, para lembrarmos o maravilhoso filme de Antonioni) convencional, por incrível que pareça retorna, como o de
quando eu era jovem, o mesmo de meus pais.Sei lá, seria algo atávico,
primordial?Acho que as futuras estruturas desejantes(máquinas
desejantes) estão muito ligadas ao desdobramento que será realizado
dentro do campo dos desejos e da libido feminina.Querendo ou não, o desejo é sempre indomável.Pode se fingir de morto mas, quando menos se espera, sempre solta um coice.
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