Fato é que, dentro do que se apresenta em termos de história, ser mãe deixou de ser vocação, se é que podíamos trabalhar aquilo em termos de vocação.Também não é fatalidade, apenas uma circunstância. O apego a mitos pode embotar certos aspectos da existência.A família tradicional tende a acabar, ainda que certa teimosia "ideológica"-inclusive em termos de indústria cultural- persista em acalentar o mito, como se acreditássemos ainda em medusas e ninfas em pleno século vinte e um.Ainda que eu acredite, pessoalmente, em ninfas e sereias; mas é um problema meu.Contudo o mito persiste, economicamente não funcionando mais .mas preenchendo certas carências psicológicas femininas que, provavelmente, poderiam ser supridas por outros meios. O mercado e os donos do poder, astuciosamente, sabem bem disso.Manter o mito seria o mesmo que manter vivo um mamute em época de aquecimento global.Só mesmo em biotério.A família tradicional é mantida à custa de biotérios imaginários, na tentativa da manutenção de uma estrutura já fadada à extinção. Quando vejo famílias, ainda tradicionais, que funcionam, sinto como se eu passeasse num zoológico vendo aqueles pobres bichinhos que, vítimas do processo evolutivo, deixarão de existir.
O problema que se põe é como se desenvolver formas mais amplas de fraternidade e convivência social prescindindo dos mecanismos e sistemas antigos.Todos precisam de reconhecimento, afeto e consideração.Ou seja, a família tradicional acabará, o amor não.Espero...A sociedade atual ainda pouco se preocupa ou age no sentido do bem estar psicológico dos indivíduos.E as neuroses e traumas criados dentro da convivência familiar, ampliados e correlacionados com as dificuldades da vida social, provavelmente continuarão ou se transformarão em outras coisas, traumas, frustrações ou novas neuroses, já que é imanência da vida a imposição de sofrimento durante o viver.
Uma mulher que se sente pouco "maternal" não deveria se recriminar por tal coisa.E se não quiser formar família ou ter filhos , qual o problema? Seguir scripts sociais não é garantia de felicidade nessa vida.Não foi a família, qualquer que fosse ela, desde a antiguidade até à patriarcal burguesa ,que livrou o ser humano de sua condição trágica de existência.Nem a mais devotada e carinhosa mãe do mundo conseguiu isto com qualquer humano nascido de ventre feminino.O qual continua existindo e criando vida, uma circunstância de fato misteriosa para todos nós.E se no futuro nem ao menos dele precisarmos para a recriação de vida?Bem, quem sabe a partir disso seríamos um outro tipo de vida.Já o somos, de certa maneira, acoplados a complementos biônicos e eletrônicos.
Todavia, não é de se esperar que uma mãe de hoje, esteja ou não acompanhada de parceiro(atualmente os prazos de validade dos relacionamentos estão cada vez mais curtos) , aja ou sinta como a de outrora.Eu, pessoalmente, tive uma desse último tipo e dei sorte.Ou azar?Vai lá saber....Como ter um filho é um pouco de sorte e azar misturado. Tudo na vida é assim, tudo meio circunstanciado ao sabor dos ventos do acaso, dos hormônios e outros acidentes físicos. Um filho não nos justifica já que é uma entidade humana independente.O que se lega ao filho ou ao mundo é o que tem sentido, não a continuidade biológica, mero acaso da espécie.Mas não dou mais palpite porque não sou pai, nunca serei mãe e não sei para onde esse mundo louco nos conduz, com ou sem mães, com ou sem famílias tradicionais.Que pelo menos não ficasse pior, já estaríamos no lucro.
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