segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Ontem, hoje e sempre

Passo lá pela universidade e uma greve ainda se prolonga.Limitada, claro, a alguns espaços ou escolas.Toda vez que topo com alguém, jovem, curioso de como eram as coisas lá pelos anos oitenta, hesito, apenas dizendo que eram como ontem, como hoje ou sempre.Claro que quando a repressão e o perigo são maiores o comportamento é diferente.Hoje não há ditadura, a do tipo  política, por assim dizer; a ideológica , sempre, as pessoas sendo levadas a pensar como o rebanho que frequenta os centros de compra e endividam quase a alma, a qual escapa porque o próprio demônio já considera perda de tempo aumentar as hordas de suas tropas.
    Sempre digo para que  se notem nos radicalismos de hoje, nas falas e posturas agressivas e iconoclastas que, no futuro, podem se transformar em conformismo e anuência.O tempo molda algumas coisas, alguns caráteres que, mal formados inicialmente, ficam deformados, factualmente, adequando-se a melhores condições de sobrevivência.A juventude sempre é um laboratório de emoções, em busca de uma alquimia particular, uma pedra filosofal da liberdade e agregação cuja fórmula definitiva pode chegar apenas a ser conhecida finalmente na velhice, às vezes tão tarde que o gajo morre sem fazer.E que fazer?Nada a não ser ir levando, de preferência medindo as ações para que se faça pouca burrice, porque nossa capacidade de criar repertórios de asneiras é enorme.
   Já me dou por contente hoje se falo pouca bobagem, se cago pouca regra ou não dou uma de sabe-tudo.Como dizia o velho e querido Mário, chega a hora em que o tacho de cerejas já está quase vazio  e temos que saborear  até o caroço.Como não passo de um homem e suas circunstâncias, para se usar a conceituação filosófica de Ortega y Gasset, fui envolvido em circunstâncias outras, políticas até, em que proferi ou defendi muita coisa em que não acreditava, apenas por achar que aquilo, aquele comportamento ou ação tinha validade social ou ajudava meu semelhante.Coisas de juventude, impossíveis de serem contornadas ou bem elaboradas.
   Greve, gritos e protestos sempre haverá, felizmente.O que não se move é morto.Eppur....O centro está em todo o lugar; mesmo que escolhêssemos um arbitrário este se moveria.No caso do homem, às vezes o centro de gravidade da vida impõe uma espécie de "ponto morto" existencial, o que faz com que se sonhe com um barranco ou inclinação para o carro ir na base da banguela.O que é triste, já que nisso a vontade individual se enclausura no buraco da vergonha.E pouca vergonha mesmo é não querer espernear.Ou ficar louvando glórias de um passado inexistente.O passadismo envenena a alma, é a cicuta do coração.Foram apenas circunstâncias que produziram o risco, o medo, a fuga. No geral, muita coisa se repete e a vida segue, com mais jovens repetindo os erros dos mais velhos.Assim se fazem as coisas, o mundo segue, não certamente para o buraco mas para o indefinível.No meio das bobagens que ouço hoje e que gritei ontem, apenas sinto sempre algo de esperançoso.E quando a esperança se vai, um pedaço da alma da gente vai junto e o resto apodrece.Ao meu redor, o cheiro sempre é fétido, mas em algum canto sempre sinto algum aroma de flor.E, normalmente, esta é sustentada pela sempre insegura mão de um jovem, descansando no cabelo de uma jovem.Assim a vida segue e seguirá, mesmo sem mim.Ainda bem.Eppur...

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