Para falar a verdade, não vejo muito sentido
no dia de finados.Os mortos não existem enquanto presença física, mas estão
presentes entre nós , dentro de nós, na
forma de hábitos, valores, sentimentos transmitidos,formas de
agir,comportamentos,pequenas subjetividades herdadas a partir da
convivência com aqueles que não mais estão entre nós.Todo dia acaba, por
isso, sendo dia dos mortos.Imaginem que houvesse apenas um dia do Amor.Bem,
talvez nem estejamos tão longe disso...
Somos memória em ação ; tantos e tantos que partiram mas continuam vivos
em nosso cotidiano, em cada passo, em cada sombra que perscrutamos. Ou não
seríamos nós uma forma de sombra dos que morreram.?As lembranças, as
lembranças...Para quem acredita em vida depois da morte, fica mais fácil, já
que as coisas e os entendimentos podem se reatar no futuro além dessa vida
aquém morte.No meu caso, que não acredito em vida depois da morte, exerço essa
forma mais desinteressada de amor que pode haver que é a lembrança dos
mortos.Sem contar os mortos que nunca conhecemos mas de quem temos, quem sabe,
o melhor do que eles eram em vida, por meio do milagre da criação artística,
irmãos de alma que não conhecemos, a vivência de uma nostalgia de algo que não
se viveu .Como disse o Drummond: no fundo, a morte não é triste e sim serena.
Por
isso, nesse dia de Finados, não vou saudar os mortos, já que faço isso a cada
momento em que, dia a dia, a imortalidade de suas memórias na minha memória afirma
a própria negação da morte.Por que não
saudar a vida por meio da morte?
Sim,
não vou saudá-los e sim saudar a mim mesmo
com todos esses mortos que habitam dentro de mim.
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