domingo, 1 de janeiro de 2012

Brevíssima reflexão sobre a felicidade

  FELICIDADE. ORA, ESSA TAL FELICIDADE!
É muito comum, em redes sociais  ou conversas amenas e triviais, pessoas falando de si,  declarando-se felizes e em paz com o mundo.Não desconfio de tal sinceridade, mas nunca endossaria isso.Sou condenado a desconfiar das palavras.Não consigo imaginar-me em paz com o mundo; pelo menos com esse mundo que habito.Ser feliz é “in”, ser infeliz é “out”, chato e, para alguns, até pernóstico(?).De minha parte, sempre me considero ou me considerei, a partir do momento em que os miolos foram postos mais em ação, em mal estar com o mundo.Parafraseando um poeta, cujo nome lamentavelmente não me vem à mente, estou aqui “tendo nascido sem pedir e condenado à morte sem querer”e os absurdos do mundo não se compatibilizam bem com os idealismos de vontade que cultivei e que não sei bem onde colocar.Não que deixe de ter meus momentos de felicidade, mas não consigo me imaginar em estado longo, muito menos permanente, de felicidade.Não sofrer muito já é grande vantagem nessa vida.Quem se vê privado de saúde sabe que esta  é o maior  dom do mundo, até mais que paz de espírito porque esta,além de ser uma ilusão idealista-semi-religiosa, quando ausente pode ser suprida pelas religiões, cultos ou drogas(legais ou não), consumo( no caso capitalista), sexo, artifícios vários para  alívio daquele peso de Sísifo que faz a existência de todo mundo.A quase exigência social de felicidade faz com que as pessoas se sintam constrangidas  ao declararem  sua infelicidade.Exceto artistas, claro, que podem até utilizarem-na como motivo justificador de ofício.E qual o problema, qual crime em se declarar infeliz?Certas verdades acabam por ser escamoteadas, apenas pelo fato de serem verdades, mesmo que parciais.Prozacs e anti-depressivos são o eden prometido pela ciência?Talvez, em parte;sei não...A verdadeira felicidade é pessoal, quase que incomunicável.Podemos percebê-la em outra pessoa, captar suas emanações; mas nunca medi-la ou vivenciá-la exatamente como ela é vivida dentro do outro.Há muita inveja de pessoas que se dizem felizes, o que não passa de tolice ou mesquinharia do invejoso: afinal, não se sabe com certeza se o “felizardo” feliz é realmente feliz, pela felicidade ser uma imposição  para nos alienar da infelicidade(ou momentos constantes de) do dia a dia, o que faz com que com frequência se minta sobre a felicidade, tão acintosamente quanto homens mentem sobre sexo ou negócios.
Gosto dos gregos porque, para eles, a preocupação não era a felicidade mas o entusiasmo(ter um deus dentro de si), o que envolve a situação trágica do homem no universo que, esteja ou não feliz, tem sempre que caminhar rumo a um desconhecido, coisa que dá sentido a essa coisa sem sentido que é a vida.Esses helenos arcaicos, muito antes dessas crises capitalistas que hoje devastam suas antigas terras, habitadas por povos que não passam de resquício de uma grandeza de outrora, sabiam que a vida é guerra constante, que toda a razão serve apenas para nos livrar de devastações maiores. Assim como tenho certeza(não absoluta, por preferir me despir de presunções exacerbadas) de que nem toda tecnologia do mundo nos trará a tal “felicidade”; quando muito(e já é muito!) facilitará nossa vida, nossa diminuição das dores físicas e nossa (in)comunicabilidade facilitada por meio da velha tradicional mentira de milênios atrás.E, com dignidade-a busca disso, talvez, mais importante para mim que a tal “felicidade”-, seguiremos, ainda que sem as horríveis e devastadoras guerras entre povos ou nações (quanto sangue derramado inutilmente!Quem chora por ele?), em meio às inúmeras injustiças individuais e sociais que, juntamente com os absurdos inenarráveis, campeiam soltas pela nossa história, continuaremos em guerra com o mundo.Porque , como disse Platão, “só os mortos conseguiram ver o fim da guerra”.
Daí não desejar a infelicidade dos outros pelo mesmo motivo de desconfiar da felicidade dos outros.Porque sempre desconfiarei mais das palavras do que das emoções que, com muita dificuldade, se traduzem defectivas através das palavras.Assim como as pessoas se enganam com as palavras, tanto quanto como com as emoções.A felicidade, no fundo, é uma pista de que achamos algum atalho para alguma verdade.

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