domingo, 22 de janeiro de 2012

alguns pensamentos de janeiro de 2012

Um personagem de Shakespeare, a certa altura, põe “o lunático, o amoroso e o poeta” juntos, como sendo “ de imaginação toda uma”.Li, certa vez, um comentário de um filósofo sobre o assunto, questionando como seria possível  ficar com o amoroso e o poeta sem o lunático.Talvez isso seja mesmo impossível, quem sabe pela natureza em si do fenômeno, ainda mais quando se vive num mundo tão lunático como o nosso, onde podemos mesmo diferenciar tantos tipos de lunáticos.Desde que o cidadão não saia por aí dando tiros, ameaçando ou torrando em demasia a paciência de seu semelhante, não vejo nenhum mal em ter essas atitudes de comportamento “alternativas” nesse hospício global.O problema é que o mundo hoje- talvez sempre-  é moldado de forma a enquadrar e controlar demais coisas como lunatismo, amor e poesia.Mais ou menos como se faz com todo esse mamute burocrático de cuja entranhas pertencemos.

Frequentemente construímos raciocínios complexos, abstratos e mesmo esdrúxulos, apenas para justificar nossos desejos.Daí que, mais nos erros que nos acertos desses raciocínios, temos melhor revelação do que nossa personalidade é em seus meandros menos acessíveis.E julgando nossos erros podemos saber melhor do que realmente somos feitos, constituídos ou construídos pelos hábitos, valores e condicionamentos.Mas haja coragem para isso!Porque os desejos são sempre insaciáveis e cegos.

Nossos instintos servem para beneficiar nossa própria vida e de nossos descendentes, bem como  para atrapalhar a vida de supostos rivais.Isso é o que de mais natural, por assim dizer,  existe no caráter humano do ser.A primeira classe desses instintos  pode produzir, por meio de suas transformações, alegria de viver, amor ou arte(esta uma consequência e derivação psicológica do amor).A outra classe,  coisas como competição, patriotismo, egoísmo compulsivo ou guerra.A moral convencional  tudo parece fazer para suprimir, ou pelo menos inibir, a primeira classe e incentivar a segunda.Uma moral verdadeira e humanística faria o contrário.De tal maneira que certas formas de imoralidade podem ser louváveis, já que é um tanto complicado demais viver em amoralidade total vivendo em civilização.Por isso, certas posturas marginais podem ser muito importantes para o tecido social e para a história humana.Embora o preço cobrado por isso seja muito caro.Para isso criaram-se deuses e entidades punidoras, além dos artifícios naturais  das repressões estruturais que o próprio sistema inventa.

Frase de Nelson Rodrigues: “nem toda mulher gosta de apanhar; só as normais”.Fosse vivo hoje , o autor  estaria sendo processado por falar isso(ouvi o homem falar isso na televisão, ao vivo, há inenarráveis décadas atrás).De psicanalista: “apenas as masoquistas”.Os sex-shops descobriram um filão com isso.Mas, pessoalmente, acho mesmo que só as “burras”(e a ignorância é a grande aliada da burrice).O primeiro tapa, sem justificativa ou prévio aviso, já diz tudo, antecipa muito do que vem pela frente.Aí é visto como mero acidente, surto, evento ocasional.Só não entende quem não quer enxergar o que vê.O lógico seria o fim de relacionamento, afastamento, gelo(não apenas no local atingido) ou  polícia.Mas quem disse que há lógica nessas coisas entre homem e mulher?Mas fico sabendo de muita coisa feia por aí, muita  sujeira empurrada para baixo do tapete, produzindo multidões de ácaros(i) morais; o que produziria  aquele sorriso sarcástico-obscuro que era comum no Nélson, provavelmente dizendo : ah, esses idealistas...

     Nossas crenças deviam ser construídas a partir de fatos, não de desejos, preconceitos ou tradições.Deveríamos ser judiciosos e racionais, em se levando em conta as necessidades de sobrevivência da humanidade.O arado da publicidade cultiva de preferência o senso comum, esse grande motor da ignorância.Como vivemos num mundo  que privilegia as imagens e a superficialidade, continuamos sempre envoltos nas trevas da caverna de Platão.O qual dificilmente conseguiria se enquadrar em alguma consultoria ou programa televisivo de auto-ajuda, ainda mais se só falasse grego.Para tal  já existem “diluidores”  aos montes, ganhando dinheiro e prestígio a custo de sabedoria de supermercado.

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