quarta-feira, 1 de março de 2017

Pessimismo contra otimismo

"o pessimismo do pensamento nunca deveria abalar o otimismo da vontade".Esse é um pensamento do grande escritor francês Romain Rolland, pensamento citado por Gramsci, quando esse mofava nos cárceres fascistas de Mussolini, também utilizado por Freud em sua obra famosa, A civilização e seus descontentes.Freud que, por sinal, mantinha correspondência com o francês; além de fazer o mesmo com meio mundo de intelectuais pelo mundo afora, claro.Daí que essa forma de enfatizar o papel da vontade nos remete ao papel da esperança.Realmente, esta é a última que morre. Nas necrópoles a inexistência de esperança coabita bem com o silêncio de pássaros ou discreto farfalhar sombrio em meio aos ciprestes.Nos hospitais, a esperança é sempre uma transpiração dolorosa em meio aos gemidos.Sem algum tipo de esperança já estamos, de certa forma, mortos.Quem sabe surja daí tanto interesse por temáticas de zumbis em seriados e filmes.Esperança não se obtém por crediário, constrói-se pela vontade; talvez pela teimosia.A zumbilândia tecnológica prescinde de esperança, porque toda esperança é alguma percepção ou deliberação(ainda que meio inconsciente e sem motivos concretos formais) de nossa individualidade, uma maneira de afirmar a vida contra a morte, essas duas tensões que habitam nosso interior, nosso cotidiano, nossas ações, quiçá o mundo louco que nos cerca, muito maior que nossa insignificância frente ao acaso, esse grande manto que o universo lança sobre nossa existência. Mas somos tão manipulados por fora(pela imposição dos valores sociais, culturais e econômicos) como por dentro(por forças irracionais que parecem mesmo agir sem nosso consentimento), que nos perdemos de nossa capacidade, muitas vezes, de assumir uma rota nas encruzilhados com as quais nos defrontamos.Talvez seja essa esperança um tipo de fé que prescinda de entidade superlativa que nos alivie do peso de nossa inescrutável condição de solidão.Sorte têm os que se estribam em alguma fé religiosa ou metafísica.Ou azar, dependendo do enfoque. Por mim, só me fio nos mistérios que dia a dia, mais o tempo passando, menos respostas apresentam.Pouco nos custa alimentar o pessimismo; instrumentos lógicos não nos faltam para erigir sua morada em nossos corações.Somente o mistério da vontade dá sentido ao todo sem sentido que chamamos de vida.E assim , a gente vai levando, levando.Inclusive por aqui, nesse país, cuja história por vezes me lembra um coveiro soterrando todas as esperanças que procurei cultivar nos jardins de meus desconsolos.

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