Como perder
alunos de arte :
A coisa, profissionalmente falando, que mais fiz até hoje foi dar aula.Inicialmente de Física, depois de arte, a partir do momento em que arte passou a ser a coisa mais importante para mim.Por outro lado, sempre padeci de certos idealismos que sempre comprometeram meu bem estar.Principalmente o emocional. Nem vale a pena discorrer sobre o tema aqui.Afinal, pragmatismo nunca foi mesmo o meu forte.Agora vejam
só que situação complicada em que eu me colocava, quando ainda dava aulas de
arte: para a garotada eu falava que, caso sentissem muito prazer naquele fazer
ou aprendizado artístico, podiam articular isso com formas de sobrevivência no
futuro, dado o fato que o prazer estético é praticamente uma necessidade
biológica.Mas que podia haver um outro contexto nisso.E qual seria ele?
Aquele em que sentissem que o âmago de sua
alma estava integrado com aquilo, com o fazer e o viver artístico, a ponto de sentir que sua vida perderia
sentido sem essa coisa; aí estariam entrando num terreno perigoso e fascinante,
quase um caminho sem volta, com o risco futuro da maior sensação de fracasso
que se pode imaginar em caso de frustração de objetivos, sem criar expectativas
de sucesso, glória ou fortuna, já que tudo é envolvido em acaso e
indefinição.Porque mais importante que tudo seria a sensação de criação, essa
forma de matar a morte, como dizia Romain Rolland.O salto no escuro e na
incerteza, naquele momento de leão que vale mais que a existência toda de um cordeiro.O risco da marginalidade, da não aceitação e de inúmeras privações.E
frustração com as próprias limitações, algo nada fácil.Mesmo sem sofrimento
material, a alma sempre insatisfeita, a insatisfação constante com o que se
faz.Picasso que o dissesse....
A percepção
de que até mais importante do que o viver seria o criar .E tudo que fosse o
viver, fosse companheiro, amante, família ou
amizades, tudo existiria para alimentar o criar. Não pode haver meio expediente para isso, se o negócio se torna muito sério.Ou seja: quase uma “missão”
voluntariamente aceita numa encruzilhada da vida.
Bem, tudo
isso era perfeito para perder muitos alunos.Ficavam apenas os
missionários....Que, em geral, precisavam pouco de meus serviços já que, como
missionários, já tinham dentro de si uma luz para guiá-los.
Então,
claro!, percebi que já contava com pouca vontade de dar aula.Porque o que se
faz sem paixão ou sem entrega total é atividade comum, está longe da vontade de
certos temperamentos que nunca encontram bem seu lugar nesse mundo.E que lutam
para manter vivos seus desejos e sonhos.Sem desejo ou sonho, sobra apenas o
sono...da morte.
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