Assim como
não se banha duas vezes na mesma água do rio, não se encontra duas vezes a
mesma pessoa no mesmo caminho, não se faz duas vezes a mesma coisa na mesma
situação.No fundo, desde os gregos pré-socráticos até os dias de hoje,
permeia-se nossa atitude entre ver tudo em movimento ou tudo se repetindo.Desde
nossa vida individual até os eventos históricos e coletivos em que estamos
envolvidos, sempre uma opção entre atuar dentro de um movimento em ação ou se
encontrar um barranco para, recostado, ver tudo passando e voltando a ser o
que, aparentemente, sempre foi.Por mais determinismos que nos impulsionem,
sempre há a possibilidade de fazer algo por nossa vontade e deliberação, mesmo
que isso implique em dar com os burros na água.Essa mesma água que nunca está
parada, mesmo numa poça, já que ela, simplesmente, com nada a se fazer, tem como destino...evaporar.
Sempre é mais fácil
capitalizar o ódio do que o amor.O ódio tende à destruição, à anulação do que é
vivo e expansivo, ao nada, à imobilidade ou inércia sem vida, à
inorganicidade.Sua vocação é desligar antes que ligar, para, enfim, evitar a
multiplicidade..O amor é naturalmente expansivo, orgânico e tende naturalmente a
ligar.O ódio desenvolve forças dinâmicas, físicas, químicas e energéticas que,
soltas e sem aproveitamento pelo amor, apenas resultam em vazio e silêncio,Administrar o ódio é a única forma de amar.Inocência nossa
acreditar que não há ódio dentro de nós, assim como há células ou
micro-organismos lutando pela desagregação de nosso próprio corpo.A nossa luta
não é para morrer- já que o fim é inevitável- mas para se continuar vivo.O que
ocorre nesse nosso estranho e silencioso mundo interior também ocorre no exterior,
na vida pessoal, social, entre povos, grupos, classes, famílias ou nações.O
amor é entrópico, o ódio é entálpico, para quem se interessa por física e
termodinâmica. Homens e formigas são bichos estranhos, parecem agir contra as
leis cósmicas que conhecemos.O grande mistério não é a irracionalidade mas sim
o seu contrário, a racionalidade, a única coisa que pode nos salvar.Se é que
podemos ou queremos nos salvar.Mas, no fim, tudo é mistério.
A gente sempre corre o
risco de se acomodar com a repressão externa(política, cultural, social e
outras) assim como fazemos com nossas mediocridades.Aí deixamos de buscar os
extremos, ficando apenas no médio.E no médio a mediocridade se refestela.Para
gaudio dos políticos, especialmente os reacionários.
Sobre a forma de ser
hiena
Cada um tem o direito de se refestelar com a carniça que lhe convém.Nem preciso me atualizar porque já estou velho demais e há muito, muito tempo que não suporto como nos conformamos com pouco por aqui, nesta porcaria de trágica ascendência histórica...Há hienas ilustradas, sofisticadas ou simplesmente toscas, para todos os gostos; inclusive vegetarianas, pós-modernas, metidas a descoladas, alternativas, mas no fundo tendo a mesma origem animal, fedendo um bocado(tanto faz se física ou moralmente)se adaptando à podridão nossa de cada dia..No fundo, o fedor é universal, apenas o perfume desodorante dos modos ou forma de mentir alivia o ar.Apenas surgiram do fundo das savanas tropicais brasílicas umas mais ferozes, mais sedentas de sangue, mais vorazes..A mesma irracionalidade animal de sempre.Enfim, os grandes predadores sempre dominarão savanas ou florestas.Pelo menos até que elas acabem.Aliás, consultando manuais de zoologia(assim como de história) percebemos que há diferenciações entre elas, hienas, por base genética.Mas as hienas originais, não as nossas, têm importância e função na natureza.As nossas são inúteis, o mundo e a natureza não se ressentiriam de sua ausência súbita.Não se deve caçar hienas.As africanas, bem dito..As brasileiras, apenas as desprezo.Sem diferenciar, não me preocupo em caçar o que desprezo.O tempo se encarrega de fazer com que tudo vire carcaça.
O semi-analfabeto político
Fala-se muito sobre o
analfabeto político.Mas o que dizer então do semi-analfabeto político?.Aquele
que, tentando se despir de emocionalismo de momento ou de influência de
propaganda ou ilusão, procura refletir sobre uma posição a tomar, mas vai só
até....a página 2.Não consegue ir mais a fundo, a complexidade o ameaça e à sua
auto suficiência, não logrando com isso descortinar o tecido de interesses que
manipulam os poderes aos quais, ele, por vezes bem intencionado, se submete
mesmo sem perceber. Com frequência adere ao discurso oficial autoritário e
autorizado com viés democrático e elucidador.Daí que, mesmo posando de
anti-sectário ou tolerante, aparentemente demonstrando mais consciência que o
pleno analfabeto, já estabeleceu dentro de si, dentro dos limites de sua
auto-reflexão, uma barreira que o impede de ver além das sombras que se
projetam na caverna.O analfabeto nem ao menos tem interesse ou coragem de
entrar na caverna.Ou as portas da mesma para ele estão cerradas.O semi toma as
sombras que lá dentro vê pela corporeidade que em verdade as produziu.No final,
pode não passar, como os demais ,de mais uma vítima de efeitos especiais. Como
alguém que fala a língua mas não consegue descrevê-la em símbolos gráficos. E,
como sempre, os limites entre ingenuidade e estultice são muito, muito tênues.
Quando não se tem nada, exceto a razão, tudo nos impele para algo além
da própria razão.
O homem racional sempre será uma irracionalidade domesticada.
Há gente que diz não acreditar no inconsciente.Normalmente, são as pessoas mais confusas na consciência.Por
acreditarem demais na própria consciência.
Entre um pássaro na mão e dois voando, prefiro não inventar nenhuma
forma de gaiola artificial
Então, numa conversa com uma amiga, aparentemente anti-convencional e
anti-burguesa, ela me vem com o papo de que o que mulher mais aprecia num homem
é seu poder ou prestígio.Aí fico na minha, já que poder, para mim, sempre se
relacionou mais com algo de mim para mim mesmo, necessidades de meu interior,
mais importantes do que a forma como meu interior se impõe ao exterior.E
prestígio?Sempre o considerei um acaso e uma prisão para quem o define como
estratégia de vida.Logo, é espantoso que
eu tenha atraído algumas mulheres. Pelo menos algumas que, definitivamente,
pelo menos em algum momento de suas vidas, não deviam pensar como essa minha
amiga.Se é que uma pessoa assim de fato pode ser minha amiga.Ou merece sê-lo.
O mundo é feito de ilusão?Talvez estejamos entrando no nível do onírico
tecnológico.Aí a ilusão vira uma realidade.Medida financeiramente.
Se pensarmos demais na sexualidade, talvez sejamos
instados a desistir de exercê-la.Malgrada nossa vontade.
O espelho tem sido meu melhor confidente.O problema é sua indiscrição :
todo dia a me lembrar o lento trabalho que a morte faz.Essa morte que está
sempre dentro da gente, apenas não a percebemos.Porque acreditamos no tempo.
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