domingo, 25 de setembro de 2016

Alguns poemas 26/9

Posso olhar as árvores, mas nunca as terei.
Tenho-as em meus olhos, sempre as sonhei.
Falo delas como de belas mulheres floreando no mundo
Louvá-las  todas me resta, no mistério delas me infundo.
Vejo suas copas floridas, os galhos arqueados em flor
Mas são árvores, comigo não falam nunca - ah, que dor!
Falassem comigo e não seriam árvores, outra coisa sim
basta-me o olhá-las, a mim um segredo de marfim.
E as belas mulheres que olho e venero, não insisto
basta-me vê-las , observá-las, fingir que existo.
Porque nesta vida nada se tem, seja árvore, seja mulher

senão sua beleza ,seja da forma  ou jeito que  vier.


Esses cabelos flutuam ao vento
além do vago sonho pensamento
suaves tais adornos de lamento
emolduram mistério a esse rosto
nesse olhar  de menina ou mulher
inquestionável , posto que é posto
além desse vento que varre o desgosto
Ah!   beleza pura que é uma verdade!
Oh, meu coração, tenha lá piedade!
Única verdade que a si se encerra
Única coisa a valer nessa pobre terra


Choremos hoje nossos mortos
Eles se despedem silentes
como se viajassem sem prometer mensagens
a nós, aqui
nessa estranha dimensão de não morte
ensaiando o encontro indefinido
sempre pressentido, nunca esperado
da eterna desesperada, nada superado
do reencontro indeferido, deveras saturado
de ver no coração a lembrança deles
 desses nossos mortos, mortos do mundo, daqui
d'além, afora as coisas fúteis e sem sentido
dessa vida vida louca, perdida no sublime e abjeto
enquanto eu...ai, que me sinto arrependido
nem sei do que, talvez daquele último e falho projeto.
Nossos mortos que não morrem, apenas dormitam
nesse peito nosso adornado de plumas desejosas
a reviverem a cada dia nosso o espaço deles onde transitam
nessa nossa miséria e glória de existir, meio sem saber.
Enquanto vagam,sombras de nosso passado
em que estranho canto se escondem,  os sapecas?
Esses nossos mortos que não morrem nunca...


Apenas Contemplar-te

Deixa-me contemplar-te na beleza que és
Deixa-me contemplar-te no que imagino que és.
Deixa-me perder nas formas que és
Deixa-me perder-me nelas como quem mergulha no oceano e não volta para esse mundo de castelos frustrados.
Como quem se esquece sob os ruídos estranhos, castrados,
que surgem das florestas, da noite misteriosa,
seja ela a noite física ou a noite da alma.
 Para, na esperança tola de uma calma,
sorver-te na luz obscura do sonho pensado,
jamais imaginado, cingido entre a multidão de sombras e sobras,
por seres em ti o reflexo das auroras que não terei
e imaginarei,
eu, pobre devoto da geometria misteriosa de tuas carnes,
imerso nos aromas oceânicos de teu sexo,
o qual, como tudo em ti. não tocarei, apenas contemplarei,
resignado e prostrado, vassalo de ti a contemplar-te
sem possuir-te,  nessa vida em que nada se possui além da certeza da morte.
Apenas olhando, como quem se lança ao silêncio de uma paisagem.
Para no final, a ti romper em soluço meu peito,
tu, metade estranha e igual ao que sou,
apenas, quem sabe, uma forma distinta de outra face da moeda,
tu, estranha forma de eletricidade de polos opostos ao meu,
distinguir-te como algo que já tive, não terei,
sombra florescente onde sempre morrer sonhei.
Deixa-me contemplar-te, apenas, sem tocar-te,
no mundo em que solidões e silêncios confraternizam,
para, de alguma forma e só simplesmente amar-te.

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