Posso olhar as árvores, mas nunca as terei.
Tenho-as em meus olhos, sempre as sonhei.
Falo delas como de belas mulheres floreando no
mundo
Louvá-las
todas me resta, no mistério delas me infundo.
Vejo suas copas floridas, os galhos arqueados
em flor
Mas são árvores, comigo não falam nunca - ah,
que dor!
Falassem comigo e não seriam árvores, outra
coisa sim
basta-me o olhá-las, a mim um segredo de
marfim.
E as belas mulheres que olho e venero, não
insisto
basta-me vê-las , observá-las, fingir que
existo.
Porque nesta vida nada se tem, seja árvore,
seja mulher
senão sua beleza ,seja da forma ou jeito que vier.
Esses
cabelos flutuam ao vento
além do vago
sonho pensamento
suaves tais
adornos de lamento
emolduram
mistério a esse rosto
nesse
olhar de menina ou mulher
inquestionável
, posto que é posto
além desse
vento que varre o desgosto
Ah! beleza pura que é uma verdade!
Oh, meu
coração, tenha lá piedade!
Única
verdade que a si se encerra
Única coisa
a valer nessa pobre terra
Choremos hoje nossos mortos
Eles se despedem silentes
como se viajassem sem prometer mensagens
a nós, aqui
nessa estranha dimensão de não morte
ensaiando o encontro indefinido
sempre pressentido, nunca esperado
da eterna desesperada, nada superado
do reencontro indeferido, deveras saturado
de ver no coração a lembrança deles
desses nossos mortos, mortos do
mundo, daqui
d'além, afora as coisas fúteis e sem sentido
dessa vida vida louca, perdida no sublime e abjeto
enquanto eu...ai, que me sinto arrependido
nem sei do que, talvez daquele último e falho projeto.
Nossos mortos que não morrem, apenas dormitam
nesse peito nosso adornado de plumas desejosas
a reviverem a cada dia nosso o espaço deles onde transitam
nessa nossa miséria e glória de existir, meio sem saber.
Enquanto vagam,sombras de nosso passado
em que estranho canto se escondem,
os sapecas?
Esses nossos mortos que não morrem nunca...
Apenas Contemplar-te
Deixa-me contemplar-te na beleza que és
Deixa-me contemplar-te no que imagino que és.
Deixa-me perder nas formas que és
Deixa-me perder-me nelas como quem mergulha no
oceano e não volta para esse mundo de castelos frustrados.
Como quem se esquece sob os ruídos estranhos,
castrados,
que surgem das florestas, da noite misteriosa,
seja ela a noite física ou a noite da alma.
Para,
na esperança tola de uma calma,
sorver-te na luz obscura do sonho pensado,
jamais imaginado, cingido entre a multidão de
sombras e sobras,
por seres em ti o reflexo das auroras que não
terei
e imaginarei,
eu, pobre devoto da geometria misteriosa de tuas
carnes,
imerso nos aromas oceânicos de teu sexo,
o qual, como tudo em ti. não tocarei, apenas
contemplarei,
resignado e prostrado, vassalo de ti a
contemplar-te
sem possuir-te, nessa vida em que nada se possui além da
certeza da morte.
Apenas olhando, como quem se lança ao silêncio
de uma paisagem.
Para no final, a ti romper em soluço meu
peito,
tu, metade estranha e igual ao que sou,
apenas, quem sabe, uma forma distinta de outra
face da moeda,
tu, estranha forma de eletricidade de polos
opostos ao meu,
distinguir-te como algo que já tive, não
terei,
sombra florescente onde sempre morrer sonhei.
Deixa-me contemplar-te, apenas, sem tocar-te,
no mundo em que solidões e silêncios
confraternizam,
para, de alguma forma e só simplesmente
amar-te.
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