Interessante o fato dessas eleições me fazerem lembrar de Sartre, em uma de suas últimas entrevistas, ao dizer que a humanidade englobava alguns aspectos sombrios, dentre eles o fato de que se faziam grandes revoluções , onde morriam tantas pessoas, para que se mudasse muito menos do que era sonhado. Sem contar as guerras inúteis; ou melhor, úteis para os que as promoviam em proveito próprio.
Em política comum, usualmente ,se utiliza a mobilização emotiva, irracional, no sentido de se criar falsos sonhos, trabalhando sempre em cima de esperanças, acima das possibilidades reais.Esconde-se o que está por trás.Moralidade, honra, patriotismo, incorruptibilidade, tudo isso é usado como fachada, onde se usam fantoches, os candidatos, mensageiros ou sequazes dos poderosos que os agenciam.Daí que , dentro do que se chama de uma democracia moderna, haveria a necessidade de uma identificação maior entre eleitor e partido, a partir de programas partidários e coerência na utilização desses programas.Consciência cívica e histórica.Tais coisas inexistem por aqui, mesmo em camadas qualificadas como mais "esclarecidas".Mas o eleitor brasileiro, em média, é um analfabeto político, não sabe o básico de uma argumentação, despido de informação histórica do próprio país(na verdade, de história em geral), carrega uma "casa grande e senzala" dentro de seu coração(fechado e com chave jogada fora), não tem identificação alguma com programa partidário. Nossa burguesia nunca fez qualquer revolução, nossas classes médias, salvo alguns hiatos, são,em média, a média da média da mentalidade medíocre de classe média.Age-se ao sabor das emoções primárias, do juízo de valor e do preconceito, no estilo do público dos programas de televisão sensacionalista.Já houve um momento, na história desse país, em que sonhei que a educação política levaria a posturas mais conscientes das pessoas na forma de agir em sociedade, além do moralismo imediatista, das soluções de emergência. Foi um sonho que nasceu, frutificou e gerou esperanças em meu coração, após o fim da ditadura, a qual tanto odiei e combati em seus estertores sombrios.
Talvez tenha sido idealismo de minha parte, eu que, no meu idealismo em algumas coisas, em tantas fui ridicularizado, inclusive nas searas políticas por onde andei e me desiludi.O ser humano sem qualquer traço de idealismo não passa de um cadáver moral. E o homem é um ser moral, já dizia o velho Aristóteles.Esse cemitério moral se alastra em plagas nacionais.Ruínas mais vastas do que em toda a Grécia.Todavia, confesso, pode ser que seja um defeito meu em, ao não me contentar com pouco, querer sempre muito mais do que a realidade pode oferecer a mim e ao país. Quem sabe o negócio seja esse mesmo, a mudança sempre pequena, no ritmo do título de um livro clássico de política chamado de "Um passo à frente, dois atrás". Mas que fazer, clássica pergunta de outro livro clássico?Ao menos tenho os meus conceitos de justiça social, que sempre regerão minhas convicções políticas, e um profundo, enraisadamente profundo, desprezo pela maior parte do sistema de valores estabelecido pela ordem de poder.Recordo-me de entrevista do já provecto Drummond, meio desalentado com essa porcaria(sic) que as pessoas chamam de vida social e com a humanidade no geral, cético com relação ao valor da própria obra(incrível, não?), mas dizendo que , ao menos, não compactuou, na medida do possível, com o sistema de valores que lhe foi imposto.
Tinha vinte e poucos anos quando a li.Valeu, poeta!Espero seguir essas suas palavras até o fim de meus dias.Não quero ser cúmplice do cinismo e da hipocrisia.Nem ser tão burro, politicamente, como a maioria é.Porque o momento atual é de asnice incomensurável!
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