quinta-feira, 17 de julho de 2014

Olhar além do próprio umbigo

“A humanidade transformou-se em uma grande família, tanto que não podemos garantir a nossa própria prosperidade se não garantirmos a prosperidade de todos. Se você quer ser feliz, precisa resignar-se a ver os outros também felizes.” (Bertrand Russell)
Confesso que viver conscientemente é viver atormentado.Não deixa isso de ser uma condição de nobreza para qualquer ser humano.E o mundo nos atormenta, o inferno são os outros, como dizia Sartre.Mas o mundo está aí, ele responsável por nós, nós por ele, pelo menos na teoria.Ainda que a palavra fraternidade seja quase que um palavrão, mesmo que saibamos ser impossível amar a todos, pelo simples fato de que nem todos são dignos de amor(daí se vê que eu não sou um cristão), isso não implica no fato de que temos de ignorar o mundo, o planeta, a vida global.Comunicação global, sem sentimento global, isso não tem sentido.No fundo é desumano, se definirmos em termos de humanismo.Se as famílias tradicionais se desfazem, se os modelos econômicos para isso contribuem, isso não implica que, no fundo, o mundo não seja uma grande família.Uma família que deveria haver sem chefe ou dono, sem o grilhão da repressão às custas do fardo da sobrevivência.Racionalizada, sem excessivo poder , qualquer que fosse, centralizado.Concentração de poder ou riqueza me parece violar as leis físicas da entropia.Mas isto é outra discussão, de outro foro, estágio.Minha preocupação maior tem a ver com a sobrevivência dessa humanidade.Eu que, frequentemente, vivo querendo que o mundo se exploda.E que todos se fodam.Para depois, consciência batucando na porta, me sentir culpado pelo egoísmo.Nessas horas, saudável é para o mundo esse complexo de culpa.Muita gente ingressou em religião cristã ou credo socialista por causa disso.Sim, mas o mundo, como dizia Russell, realmente é uma grande família.
Ou seja, não podemos viver como nossos ancestrais, como seres pertencentes a hordas primordiais(termo cunhado por Darwin), prisioneiros de ficções manipuladoras como nacionalismos, fundamentalismos de toda monta(religiosos ou políticos), leis inexoráveis(a única coisa inexorável, aparentemente, é a morte), preconceitos étnicos ou raciais.Séculos e séculos sangrentos, revoluções, guerras, altas mortandades e não aprendemos.O mundo como uma frágil redoma e parece que achamos que o vidro é inquebrável.Vivemos sempre para adiar a morte, a nossa, a da humanidade, de suas idéias e conquistas.Mais fácil jogar tudo no lixo e usar a desrazão, não é mesmo?Somos infelizes porque não aceitamos a felicidade dos outros, somos ambiciosos por termos inveja do que os outros têm, quando, em verdade, todos temos uma coisa em comum: todos vamos morrer.
Esquecemos que nunca seremos ou poderemos nos considerar seres livres enquanto houver alguém sendo oprimido em algum lugar do mundo.Este mundo é um grande organismo, multi-celular, onde as pessoas, os povos, nações e grupos são as várias espécies de células.Não custa pouco a um tecido celular se degradar.Nossa luta é pela vida, pois morrer é mais fácil.Encarar a morte é que é difícil,Contra as forças naturais de degradação, apenas o cultivar do amor , contra o impulso do ódio, pode fazer com que se continue a existência.E para isso, a razão tem que funcionar como o elemento principal,Senão o caos toma conta.A luta contra o caos: essa é a jornada humana nessa era de titãs ainda não debelada.Não a luta entre o bem e o mal; isso diz pouco, ninguém sabe bem estabelecer o bem que é mau, o mau que é bem.Mas sim a luta entre as forças construtivas do amor contra as destrutivas do ódio.E cultores do ódio, ah, isso não falta no mercado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário