domingo, 3 de fevereiro de 2013

sobre a incomunicabilidade


O que mais ouço por aí é coisa do tipo "ah, como as pessoas são loucas!"; o que , obviamente, no fundo quer dizer "nossa, como sou louco". Já ouvi um comentário sensível do tipo" tem algum dia em que você não tenha medo de se olhar no espelho?".Da minha parte, se ele,espelho, não rachar  de raiva já é muito. O chamado Princípio de realidade, termo cunhado por Freud, se transformou em Princípio de Irrealidade, alcançado por meio da tecnologia.E tudo vai parecendo, para mim , tão real quanto os desenhos que faço; esses, não são a realidade, são apenas um aspecto dela, no fundo não passando de linhas e formas, matéria mesmo que se restringe ao papel e ao material nele depositado.Afinal, o que é o real? E o princípio de irrealidade se afirma sobre o de realidade, reafirmando a incomunicabilidade entre os seres.Os quais, talvez, nunca se comuniquem mesmo, a não ser por hiatos... Palavras, signos , símbolos, um gigantesco esqueleto montado por teorias para explicar o inexplicável.Aí, surgem as trancas.
     Nem ando gostando de fazer auto-retrato desenhado, prefiro desenhar outras pessoas, de preferência retratando-as em boa situação espiritual.De barra, já basta o mundo aí fora! Às vezes fico pensando se aquele número grande de autos-retratos não fizeram o Van Gogh ter mais surtos de loucura, apesar de que a pintura resolve alguns problemas psicológicos de quem a faz.
     Sinceramente, ando vendo as pessoas andando em bolhas, mais ou menos como vemos quando se lava roupa.Uma vez ou outra vemos uma bolha maior, um casal ou mais pessoas, que repentinamente se faz em outras bolhas.Acho que a bolha é a melhor imagem que se tem do narcisismo de nossa era, o qual , inclusive, é fundamental para o correto funcionamento do sistema, economicamente falando. Não deixa de ser um problema o fato do homem, segundo Aristóteles, ser um ser social, sendo algo de monstruoso ou desumano se não agir dessa forma.
     Gostaria, confesso, de ser um pouco mais mecânico na minha forma de agir, um pouco mais blindado sem que houvesse a necessidade de isolamento social.No fundo, grande bobagem essa de amizades virtuais, já que amizade é algo concreto e muito raro.Quanto ao amor, além da irrealidade semi-psicótica causada pelos hormônios, talvez só se realize mesmo no plano ilusório ou não passe, como me disse um inteligente e conhecido psicanalista num e-mail, de um grande devaneio.
   Então, vou continuar nos meus devaneios, ou em torno da possibilidade deles.A vida é curta mesmo, talvez não passe de um sonho, bom ou mau de acordo com as circunstâncias.
    A loucura da vida apenas não passa da vida sem seu verniz de civilização, coisa que permite que o andar da carruagem não pare.De mentira em mentira vamos tocando essas relações frágeis e inseguras; a incomunicabilidade profunda ainda  é muito real, enquanto que a real comunicabilidade é tão virtual quanto tudo o que de mais moderna tecnologia há. A arte vai continuar a ser o tapa-buraco, novos narcóticos surgirão para amenizar a dor mas não resolverão tudo.Perderemos grandes possibilidades, outras, talvez não.Não importa, já que o fim é o mesmo.

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