domingo, 24 de fevereiro de 2013
sábado, 16 de fevereiro de 2013
reflexão ciclística 15/2
Bêbado, voltando para casa de bicicleta, apenas eu, as estrelas, algum anjo da guarda desavisado e algum meteoro distante da terra, esperando a hora de descansar em pedaços sobre o tecido do planeta. No céu, sempre espreitando uma lua arrogante.Momento sereno e solene, a cidade espreitando em meio ao sono inquieto e aos delírios etílicos para esquecer o peso da vida, o lastro de desilusões com que se constrói o dia a dia. Agora, um mundo amarelado pelo sódio das lâmpadas, um pouco da energia do sol que roubamos para iluminar a treva que abominamos.
Lá fora, ou dentro de uma coisa estranha que chamo de corpo, sobre duas rodas, o mistério da intuição agindo de acordo com as leis da mecânica; inércia e quantidade de movimento agindo para que eu volte ao lar que não existe, esse lar onde habito ou desabito de acordo com as circunstâncias, o céu escuro e mentiroso, escondendo a luz do sol que existe além da minha vontade.O mundo é tão vasto, dizem ser minha casa , mas não consigo nem ao menos achar os cômodos.Assim é a vida na distância da natureza, de uma aparente natureza , carregando a minha desnaturalidade desnutrida de ansiedades ou afetos, a nulidade do espaço indefinido na rota balizada da bicicleta, rondando um espelhar de lua , aqui ou ali, escapando da força da luz de artifício, como artifício é toda essa construção de desassossegos com que nos comunicamos.
Gastei o verbo e um resto de lucidez preservada ao álcool, numa animada conversa com uma produtora teatral.Estéticas e teorias para lá e para cá, carrego agora esses escombros de exercícios lógicos que tentaram explicar o inexplicável. Sobraram os delírios no interior da cabeça, tanta coisa misturada, eu ainda tentando me esforçar em pensar apenas na bicicleta.Posso cair a qualquer momento, chance maior de ocorrer do que ser atingido por uma onda de choque de um meteoro explodindo.Não fomos criados para andar de bicicleta, quando muito sobre duas pernas nos esforçando no exercício cotidiano de anti-natureza que é o seguir humano.
Chegar em casa e esquecer toda aquela discussão.Afinal, foi para matar tempo mesmo, a anestesia de sempre do álcool criando a ilusão de genialidade que logo se desfará pela consciência, essa sempre ladra desse projeto de sonho que se faz em algo que chamo de eu.
E , num outro eu bípede, pedalando e escapando da ocasionalidade homicida das máquinas humanas adejantes pela noite, vou encontrar na ebriedade do sono, quem sabe, a ebriedade perdida num momento de conversa, num vento batendo no rosto em meio ao pedalar, o silêncio obscuro de uma aparência fenecida de metrópole.Amanhã, será um dia parecido como este.Mas voltarei de ônibus.O problema é que lá também se filosofa....Mas, desde que eu veja uma lua no céu....
Lá fora, ou dentro de uma coisa estranha que chamo de corpo, sobre duas rodas, o mistério da intuição agindo de acordo com as leis da mecânica; inércia e quantidade de movimento agindo para que eu volte ao lar que não existe, esse lar onde habito ou desabito de acordo com as circunstâncias, o céu escuro e mentiroso, escondendo a luz do sol que existe além da minha vontade.O mundo é tão vasto, dizem ser minha casa , mas não consigo nem ao menos achar os cômodos.Assim é a vida na distância da natureza, de uma aparente natureza , carregando a minha desnaturalidade desnutrida de ansiedades ou afetos, a nulidade do espaço indefinido na rota balizada da bicicleta, rondando um espelhar de lua , aqui ou ali, escapando da força da luz de artifício, como artifício é toda essa construção de desassossegos com que nos comunicamos.
Gastei o verbo e um resto de lucidez preservada ao álcool, numa animada conversa com uma produtora teatral.Estéticas e teorias para lá e para cá, carrego agora esses escombros de exercícios lógicos que tentaram explicar o inexplicável. Sobraram os delírios no interior da cabeça, tanta coisa misturada, eu ainda tentando me esforçar em pensar apenas na bicicleta.Posso cair a qualquer momento, chance maior de ocorrer do que ser atingido por uma onda de choque de um meteoro explodindo.Não fomos criados para andar de bicicleta, quando muito sobre duas pernas nos esforçando no exercício cotidiano de anti-natureza que é o seguir humano.
Chegar em casa e esquecer toda aquela discussão.Afinal, foi para matar tempo mesmo, a anestesia de sempre do álcool criando a ilusão de genialidade que logo se desfará pela consciência, essa sempre ladra desse projeto de sonho que se faz em algo que chamo de eu.
E , num outro eu bípede, pedalando e escapando da ocasionalidade homicida das máquinas humanas adejantes pela noite, vou encontrar na ebriedade do sono, quem sabe, a ebriedade perdida num momento de conversa, num vento batendo no rosto em meio ao pedalar, o silêncio obscuro de uma aparência fenecida de metrópole.Amanhã, será um dia parecido como este.Mas voltarei de ônibus.O problema é que lá também se filosofa....Mas, desde que eu veja uma lua no céu....
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
domingo, 10 de fevereiro de 2013
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
domingo, 3 de fevereiro de 2013
sobre a incomunicabilidade
O que mais ouço por aí é coisa do tipo "ah, como as pessoas são loucas!"; o que , obviamente, no fundo quer dizer "nossa, como sou louco". Já ouvi um comentário sensível do tipo" tem algum dia em que você não tenha medo de se olhar no espelho?".Da minha parte, se ele,espelho, não rachar de raiva já é muito. O chamado Princípio de realidade, termo cunhado por Freud, se transformou em Princípio de Irrealidade, alcançado por meio da tecnologia.E tudo vai parecendo, para mim , tão real quanto os desenhos que faço; esses, não são a realidade, são apenas um aspecto dela, no fundo não passando de linhas e formas, matéria mesmo que se restringe ao papel e ao material nele depositado.Afinal, o que é o real? E o princípio de irrealidade se afirma sobre o de realidade, reafirmando a incomunicabilidade entre os seres.Os quais, talvez, nunca se comuniquem mesmo, a não ser por hiatos... Palavras, signos , símbolos, um gigantesco esqueleto montado por teorias para explicar o inexplicável.Aí, surgem as trancas.
Nem ando gostando de fazer auto-retrato desenhado, prefiro desenhar outras pessoas, de preferência retratando-as em boa situação espiritual.De barra, já basta o mundo aí fora! Às vezes fico pensando se aquele número grande de autos-retratos não fizeram o Van Gogh ter mais surtos de loucura, apesar de que a pintura resolve alguns problemas psicológicos de quem a faz.
Sinceramente, ando vendo as pessoas andando em bolhas, mais ou menos como vemos quando se lava roupa.Uma vez ou outra vemos uma bolha maior, um casal ou mais pessoas, que repentinamente se faz em outras bolhas.Acho que a bolha é a melhor imagem que se tem do narcisismo de nossa era, o qual , inclusive, é fundamental para o correto funcionamento do sistema, economicamente falando. Não deixa de ser um problema o fato do homem, segundo Aristóteles, ser um ser social, sendo algo de monstruoso ou desumano se não agir dessa forma.
Gostaria, confesso, de ser um pouco mais mecânico na minha forma de agir, um pouco mais blindado sem que houvesse a necessidade de isolamento social.No fundo, grande bobagem essa de amizades virtuais, já que amizade é algo concreto e muito raro.Quanto ao amor, além da irrealidade semi-psicótica causada pelos hormônios, talvez só se realize mesmo no plano ilusório ou não passe, como me disse um inteligente e conhecido psicanalista num e-mail, de um grande devaneio.
Então, vou continuar nos meus devaneios, ou em torno da possibilidade deles.A vida é curta mesmo, talvez não passe de um sonho, bom ou mau de acordo com as circunstâncias.
A loucura da vida apenas não passa da vida sem seu verniz de civilização, coisa que permite que o andar da carruagem não pare.De mentira em mentira vamos tocando essas relações frágeis e inseguras; a incomunicabilidade profunda ainda é muito real, enquanto que a real comunicabilidade é tão virtual quanto tudo o que de mais moderna tecnologia há. A arte vai continuar a ser o tapa-buraco, novos narcóticos surgirão para amenizar a dor mas não resolverão tudo.Perderemos grandes possibilidades, outras, talvez não.Não importa, já que o fim é o mesmo.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
reflexões curtas de janeiro
No meu
caso, vejo algumas mulheres como vejo a bíblia: algo estranho e fascinante, no
fundo um tanto apócrifo, cheio de discursos delirantes ou ilógicos e neuroses
travestidas em imagens simbólicas; algo
que posso até respeitar, mas não necessariamente levar a sério ou tentar
entender. Minha pretensão não chega a tanto. E todo homem jura de pé junto que
leva sua mulher a sério, algo que , forçado, se transforma num caso sério. Bem,
talvez goste disso - não da bíblia ,óbvio, livro escrito por homens histéricos e
delirantes, onde a mulher é quase sempre um demônio e cuja leitura prolongada e
obrigada por certa doutrinação religiosa sempre me causou tédio- , aprecie uma
certa ilogicidade que nos livra das falsas certezas da razão. Razões para isso
não nos faltam.Toda personalidade alheia é um livro escrito em língua
estrangeira cuja gramática desconhecemos.E vamos tateando em meio a foras e
equívocos. Claro, vão falar que isso é discurso sexista, que não se presta à atualidade .Para mim, confesso, é esta
atualidade que não presta mesmo. E sou já uma figura “ historicizável¨ ,que já
se presta a um bom tratamento anti-mofo.
Ainda
que seja, para mim, mais fácil encarar uma mulher como algo sagrado do que
algum texto escrito com a pretensão de ser uma
verdade universal, salvo se for alta literatura.Universal mesmo é a
beleza feminina.Em todo caso, no mundo da racionalização constante, não faltam
fórmulas explicativas para o inexplicável.E sacralizações para coisas de
difícil sagração.Mas coisas sagradas, imposições sagradas , isso não falta por
aí. Há tempos já executei a sagração de minha primavera de encantos.E eles
continuam, em meio às poucas coisas que, para mim e para mais ninguém,
realmente são sagradas.Tirando o Cântico dos Cânticos e uma ou outra passagem
poética, definitivamente e por razões explicáveis, acho a Bíblia um livro
chato.Mas, definitivamente, nem todas as mulheres são chatas.Aleluia!
Para
quem acha que a vida é rosa, só posso dizer que ando com problemas com a minha
paleta.Tendo mais para os cinzas coloridos, mas cinzas, apesar de tudo.Nem
branco, nem preto, que nem ao menos são cores.Essa vida são mais é dores.
SOBRE O SENTIMENTO DE POSSE
Por vezes fico pensando nas expressões
convencionais que usamos, sejam novas ou antigas.Por exemplo: possuir uma
mulher.Claro que isto estava ligado à propriedade privada ou à posse de um
bem.Hoje está meio em desuso.Quando moleque , ainda se usava mas, com o tempo e
a nova situação da mulher na estrutura econômica, ficou meio estranha.Sim,
existe o simbolismo por trás disso tudo, coisa que vai além do consciente e
penetra os desejos inconscientes.Posse física ou mental?Mas, logicamente, a
expressão carece de sentido, só o teria em caso de escravidão, ainda que os
detentores de qualquer forma de poder possam encará-la com
naturalidade.Sinceramente, nunca senti essa coisa de posse, sempre me senti é possuído,
uma espécie de halo demoníaco envolvendo a situação.Bem, fluidos demoníacos
salutares.Os problemas são sempre os
efeitos do amor, não o amor em si.Mas, particularmente, acho mesmo que a
única vez em que sentia algo parecido com posse era quando observava a pessoa
dormindo.Aí, toda a imagem e fragilidade de um ser dormindo, algo sentido por
mim e por mais ninguém, sempre foi um momento que parecia transitar entre a
vida e a morte.Quem sabe, a morte seja mesmo um sono., com ou sem sonhos, algo
bom ou neutro.Fabricantes de colchões e travesseiros faturam muito com isso.E
ver o ser amado dormindo, aquilo que antecede a esse sono, pelo menos algo
parecido com isso, um torpor estranho que nos espanta pelo sentimento e pela
fragilidade do outro que é a nossa.Um daqueles sentimentos pré-morte que
sentimos em vida, mas onde a morte se aproxima com mansidão e não com comoção.
Síndrome do Pânico(receita)
Fala-se tanto em síndrome do pânico .Não a
síndrome, mas o pânico vos ofereço: cerrem os olhos na cama, um vasto escuro se
abrindo como um abismo no interior, escuta-se o coração batendo. Mais do que
suficiente. Céus, ele funciona, independente de minha vontade, assim como tanta
coisa também o faz, independentemente, nessa minha desfuncional vida que ainda
funciona! Tanta coisa e nossa vontade pouco conta. Fosse esperto o coração,
pensasse um pouco mais, talvez parasse de bater. Mas coração não pensa, vai de
acordo com o grande coração silencioso do universo. E se o ar que entra e o que
sai se invertessem, essa máquina ainda funcionaria? Não basta isso para um
panicozinho? É sair e pensar no resto do dia.Pernas e pânico pra que te
quero.Ou basta pensar na cidade em que se vive.Bota pânico nisso! Quem sabe, um
novo aplicativo em programas de computador : o pânicus versão 2013, versão
atualizada. Mas vou voltar para meu coraçãozinho batendo de noite.
En excès de délicatesse, j'ai perdu ma vie.
Par excès de zèle, le courage perdu
par excès de rêve, je me suis échappé réalité
par excès d'amour a finalement quitté la fatalité
O sonho marginal se lamenta, choroso, em algum
canto no coração do medíocre.
Às vezes fico imaginando se, caso houvesse uma regressão na nossa
capacidade de comunicação, algum tipo de retrocesso linguístico, não seria mais
conveniente uma comunicação na base da gestualidade, dada a quantidade de
besteiras que se fala sem que tais sejam apercebidas pelo crivo crítico ou do bom senso. Talvez devesse
ser obrigatória a alfabetização na linguagem dos surdo-mudos para nos
comunicarmos melhor, quem sabe apenas nos comunicarmos.No fundo, vivemos
dizendo bom dia a cavalo; muitos dentre nós relinchando sem saber, imaginando
emitir pérolas de sabedoria.Há muitos momentos em que o silêncio vale mais que
ouro, vale platina.Talvez haja uma sabedoria embutida nos animais(menos nos
cães que ladram muito, esses tagarelas do mundo animal!).Para mim, os seres
mais sábios são as árvores.Passamos ao largo delas,árvores, imaginando mirá-las
quando em verdade são elas que nos miram, provavelmente dizendo em seu silêncio
vegetal o quanto somos patéticos em nossos ruídos sem sentido.
Podem falar mal ou contestar à vontade Freud e o complexo de édipo, mas
o que se vê mais por aí é marmanjo barbado querendo ser mimado.Mas, não sei
não, esse negócio de ser mimado acaba resultando
em micado.
Citação ou declaração de princípios não falta
e não verei morrer de fome meu apetite de curiosidade sobre isso.Ouço
frequentemente conversas que poderiam me
levar a crer estar falando com alguém disposto a singrar mares violentos. Mas a
maioria quer, no fundo, uma laguna calma.Nos dois casos a gente pode se
afogar.Caímos nas tempestades sem querer; ainda que haja tanta gente
"tempestuosa" que nos leva não à bonança , mas sim ao deserto; esse
tão mortal quanto uma tempestade. E tudo quanto é teoria por aí não me satisfaz
, é boia furada.Pensando bem, talvez
esteja tudo afundando mesmo... Melhor treinar para usar submarino.
Sempre gostei dos livros que li de Aldous
Huxley. Sempre senti um certo pessimismo dele com relação ao futuro da humanidade.Huxley
desprezava, de forma nem um pouco branda, a cultura de massa que surgia no
início do século vinte.Achava que os elementos motivadores dessa cultura
acabariam por nos levar a um niilismo insosso.Morreu no início da década de 60,
sem ver, por exemplo, os movimentos de contestação cultural que atingiram os
países ricos, lá pelo fim dessa década.Acredito que hoje, ainda mais ácido, não
mudaria muito de opinião.O que escreveu continua ainda muito atual.Há pouco li
alguns ensaios seus, escritos na década de trinta, e eles são até mais
incisivos na tématica do que os romances.Foi um grande intelectual e
humanista(parece que a nova onda agora é atacar o humanismo por meio de
irracionalismos esdrúxulos).Era aristocrata, de sangue e espírito.Essa última condição prescinde de qualquer origem de
sangue ou classe; depende apenas do próprio homem.
Interessante como as grandes visões se dão em
situações limites: homens peregrinando por desertos, imersos na solidão de
montanhas inacessíveis ou em florestas(as que ainda restam não destruídas por
nós) com misteriosos ruídos noturnos; ou no isolamento sombrio dos grandes
desertos disfarçados que são as cidades..Excelente material para a criação de
beleza, mas pouco confiável em termos de solução de problemas coletivos
humanos.Grandes visões surgem num hospício, por exemplo.Podem surgir outras,
como a daquele homem de horrível bigodinho, numa certa cervejaria em Munique,
década de vinte do século passado.Ainda bem que não tento impor minhas visões
ou delírios como verdade para os outros.Mas há muito texto, chamado de sagrado,
que trabalha certas visões - sabe-se lá em que situação forjadas - como
verdades. Pode ser político ou religioso.Ai,ai,ai..Preferível a visão poética:
tenta resolver a vida através do imaginário.As visões bastam-se a si próprias,
são como névoa de fumo.Evidente que uma névoa pode intoxicar.Desconfiança
sempre será estratégia de sobrevivência e a maior parte dos visionários acaba
por cair na real(na chatice, por consequência).O visionário mais consequente é
o que deslancha pela inconsequência da loucura, de variante grau, da
excentricidade não muito afetada.Pode até ser que essa vida não passe de algum
sonho de uma visão, feita à imagem e semelhança desse sonho estranho que é a
humanidade.
Ouço
muito se falar sobre a imaturidade e a
infantilização da cultura moderna.Quase que virou moda, o assunto é um festim
para os discursos psicológicos e, especialmente, para os que se dizem levar-se a
sério. Como nem a mim mesmo levo tão a
sério...Conheço muita gente que se diz madura mas que tem uma forma muito
desumana de lidar com qualquer semelhante, do parente ao cachorro.Diria que,
nesse caso, o amadurecimento levou ao empedramento.Tem muito fruto que parece
maduro, em muito fruteira por aí, mas no fundo é de cera.
Quem
sabe eu seja mesmo um imaturo, que já caiu de maduro.
A
criança vê a mãe toda vez como se a visse pela primeira vez.Alguns casados –
lógico, nos casamentos soçobrados - vêm o parceiro, vez após vez, como se o
quisessem ver pela última vez. Assim cresce a árvore da vida, sempre com folhas
mortas aos pés do tronco.
O
especialistas(?!) em amor se fartam em tecer considerações - livros, revistas e
artigos em profusão - de ordem psicológica, sociológica, antropológica e até
astrológica, sobre a situação do amor na contemporaneidade, já que na defunta
modernidade nada se concluiu ou se resolveu. Será que a ciência descobrirá o
gen de eros, fazendo o mapeamento genético infalível que nos indicará o caminho
das nuvens e felicidade amorosa a partir dos (des)relacionamentos atuais. Sei
não! Leio tudo isso com atenção, medito e , no final, descarto tudo.Ouço uma
música ou leio um poema que perco menos meu tempo.Não quero saber de terapia ou
DR(discussão de relacionamento ou desrespeito recursivo?), nada da sabedoria
moderna me indica que isso seja mais palpável que um bóson de Higgs, tamanha a
falta de controle que a gente tem sobre sentimentos, tanto quanto ocorre com a
mecânica quântica. Sonho de integração, unidade na diversidade; mas isto já vai
contra a lógica, o que se dirá do mundo? Seria melhor não sentir nada, quem
sabe mesmo estar morto, uma forma um tanto radical demais de não se sentir. Ou
não pensar nada para, quem sabe, continuar a sentir.
Imagine-se um rosto bonito, que você ache
bonito ou interessante, e você saiba desenhar ou queira desenhar esse
rosto.Mesmo que você não tenha muita técnica de desenho, caso se empenhe em
fazer vários desenhos do mesmo rosto, notará que cada desenho novo dá a
impressão de que é o primeiro que você está fazendo.Podemos chamar isso de um
olhar encantatório sobre o mundo, um olhar de criança.A criança quando revê a
mãe parece que a está vendo pela primeira vez, dez minutos de ausência parecendo
uma eternidade, um espanto!No caso do desenho, cada um é e não é a pessoa, é uma nova pessoa.Caso a
pessoa seja conhecida, amplia-se o mistério, o interesse e a sensação de que já
se perdeu a essência da mesma enquanto se desenha.Sem contar que, quando
desenhamos ou falamos de alguém, já colocamos algo do nosso interior no próprio
ato. Agíssemos assim com tudo e todos, e o tédio seria desconhecido com relação
aos que estão ao nosso redor ou que estimamos. Precisaríamos ter uma espécie de
olhar de criança para tudo. Mas o encantamento perdido da infância é a primeira
morte de nossa vida, ainda que possa ser remendada com arte ou sonho.
Como todo aquele que reza sem fé, eu me delicio ao olhar o horóscopo
quase todo dia, imaginando, naquele zombar
do sonho sobre a razão, que os indiferentes astros se importam comigo.
Todos somos regidos por algum som do passado.
O
som que surge de minha infância, o mais evocativo de dor e solidão, é o do
apito de um afiador de facas que passava, dia sim, dia não, na rua em que
morava. Ainda existem afiadores de faca, ambulantes por aí? Tardes quentes e
distantes na turva memória, nessas longas horas em que só na infância se vive,
tudo se comprazia no agudo apito a chamar fregueses. Foi o primeiro som de lamento
do mundo de que me recordo. Nem o mais afiado ouvido recriaria do silêncio as
notas daquele afiador.
10 de
janeiro de 2013
No dia de hoje, em 49
a.c., César cruzava o Rubicão.Bem, para ele foi um momento decisivo mas, pelo
que estou vendo, não tenho nenhum Rubicão a cruzar, nenhum Pompeu a
derrotar.Vou imaginar alguma grande decisão a ser tomada no dia de hoje!Qual
será o congelado que vou preparar para o almoço?Grande dilema!Ninguém se
preocupa com os grandes dilemas dos pequenos, mas muito com os pequenos dos
grandes. Imaginem Cesar na época do Big-brother...Mas César se dizia inspirado
por deuses, na certeza de que sua incerteza seria resolvida.Ah, as certezas dos
grandes!Grande mesmo, para mim, só minha incerteza. Ainda que andar de bike em
algumas ruas dessa cidade, envolva o risco de uma batalha contra Pompeu.Para ir
à Pompéia - não a cidade romana, mas o bairro paulistano - já é um sufoco.Ter
que ir para lá, sem nenhuma Cleópatra agendada. Que tédio!Tarefa para César...
O grande problema da ortodoxia é a
intransigência. O ortodoxo( seja de ordem moral, política, religiosa e até
sexual) parece que não se satisfaz apenas em ter a sua crença; parece que seu
grande prazer é ter que atacar alguém que descrê ou contesta sua crença.Daí que
a ortodoxia é o vestibular para o fanatismo.
Será que a vida privada é privada de
existência quando se priva da vida em família?
“Laços de família” pode não passar de um
eufemismo para quem desconhece o significado
da palavra grilhão.
A paixão, nesse mundo moderno, só acaba sendo
aceita se for socialmente eficiente.O que, para o coração, é altamente
deficiente.A eficiência em algo sempre implica em deficiência em outra
coisa.Houvesse sempre uma contraposição justa e poderíamos chamar esse mundo de
lógico.Mas isso, definitivamente, ele não é.
Nunca me julguei com vocação para
matemático, ainda que tenha feito engenharia e física. Também nunca me julguei
com qualquer vocação especial para artes, mesmo tendo abraçado essas atividades
há muito tempo.Ou seja, nunca me
descobri qualquer vocação especial, ainda que tenha me esforçado em tudo o que
fiz com seriedade.
Minha grande vocação foi mesmo me envolver
com mulheres “tortas”, as quais sempre me causaram fascínio e, depois de algum
tempo, acabavam por querer me colocar nos eixos ou me entortar de vez. Contudo,
elas próprias fora dos eixos, não
enxergavam
a própria vocação para
não entrar nos eixos e de conviver, um pouco à maneira “torta”, com os tortos
da vida.Com o perdão do trocadilho, uma terrível tortura!
Sei que muita gente pode
me matar.Assim como sei que muita gente chata pode querer puxar conversa
comigo.Mas só posso contar com uma relativa proteção do estado no primeiro
caso.
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