sábado, 7 de julho de 2012


     ARTE,SUCESSO,ILUSÃO....
Já faz tempo que dou aula de artes.Lembro-me com clareza de me defrontar, quase que diariamente, com alunos com pretensões nem um pouco pequenas.Por sinal, torna-se interessante esse cotidiano de contato frequente com tanta ambição, muito comum em artes plásticas.De certa forma tem a ver com a cultura educativa nessa área, como já de certa feita observou o  famoso crítico de arte Herbert Read.Curiosamente,  tal contexto de ambição  e sucesso fácil  é algo incompatível com a realidade econômica e o processo de circulação de mercadoria e capital dentro do que se chama de “sistema de artes”, um jogo com cartas marcadas e dependente de coisas que vão além do simples talento ou esforço individual.Muito do sucesso do capitalismo moderno depende de que a maioria não saiba realmente como ele funciona, incluindo aí todos os estratos sociais e culturais, artistas incluídos.Às vezes , em sala de aula, parece  que ninguém por ali está preocupado em se aperfeiçoar apenas em função do próprio aperfeiçoamento; sempre há um mirar distante, visando a glória e, por que não, a fortuna.Vivemos num mundo de exaltação da celebridade, ainda que essa dure poucos minutos.É difícil para um professor, no caso, instilar valores de ceticismo e realidade sem quebrar esse castelo de sonho, forjado em ambição de glória, fortuna ou sucesso.No fundo, nada disso tem a ver com a arte.Porque, em realidade, toda glória acaba sendo vã, o sucesso não traz necessariamente a felicidade e a tal da imortalidade, aparentemente, não pode ser fruída além de nossa dimensão de mortalidade.Como dizia a Tarsila, o importante é fazer as coisas com amor e dedicação, com o máximo de aplicação  e concentração de energias; o resto, sucesso e reconhecimento incluídos, não passa de acaso.Sempre como cartas enviadas sem expectativa de resposta.É tudo mais ou menos como felicidade amorosa – se é que ela realmente existe, ainda que eu não possa servir de referência – que não se expande ao infinito, reside em momentos de felicidade pelos influxos de vida que se manifestam na vida.O mesmo se dá na arte.
   Daí que é difícil  falar àquele jovenzinho ou jovenzinha que o mais importante, pelo menos em arte, é se esforçar, estudar, aperfeiçoar-se no sentido de crescer enquanto humano individual.Muito mais importante do que a glória ou sucesso, porque esses  serão sempre transitoriedades como a vida de qualquer um.Sempre o acaso envolve tudo, na corda bamba entre a vida e a morte, não se podendo ter certeza quanto a nada, inclusive sobre o resultado de nossos esforços.
     Podemos dizer que, se não nos trouxer felicidade, isso pelo menos nos fará um pouco menos infelizes.Por isso, queira-se ou não, talvez as dores dos grandes e dos pequenos artistas sejam as mesmas.E tanto um quanto outro, como me disse um querido e valoroso artista já morto, merecem respeito por isso: por fazerem o que gostam.Rodin também frisava esse papel do artista na sociedade.Afinal, todo esforço humano , animado pelo amor e norteado pela sabedoria e razão humanas, merece respeito.

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