ARTE,SUCESSO,ILUSÃO....
Já faz tempo
que dou aula de artes.Lembro-me com clareza de me defrontar, quase que
diariamente, com alunos com pretensões nem um pouco pequenas.Por sinal,
torna-se interessante esse cotidiano de contato frequente com tanta ambição,
muito comum em artes plásticas.De certa forma tem a ver com a cultura educativa
nessa área, como já de certa feita observou o famoso crítico de
arte Herbert Read.Curiosamente, tal
contexto de ambição e sucesso fácil é algo incompatível com a realidade econômica
e o processo de circulação de mercadoria e capital dentro do que se chama de “sistema
de artes”, um jogo com cartas marcadas e dependente de coisas que vão além do
simples talento ou esforço individual.Muito do sucesso do capitalismo moderno
depende de que a maioria não saiba realmente como ele funciona, incluindo aí
todos os estratos sociais e culturais, artistas incluídos.Às vezes , em sala de
aula, parece que ninguém por ali está
preocupado em se aperfeiçoar apenas em função do próprio aperfeiçoamento;
sempre há um mirar distante, visando a glória e, por que não, a fortuna.Vivemos
num mundo de exaltação da celebridade, ainda que essa dure poucos minutos.É
difícil para um professor, no caso, instilar valores de ceticismo e realidade
sem quebrar esse castelo de sonho, forjado em ambição de glória, fortuna ou
sucesso.No fundo, nada disso tem a ver com a arte.Porque, em realidade, toda
glória acaba sendo vã, o sucesso não traz necessariamente a felicidade e a tal
da imortalidade, aparentemente, não pode ser fruída além de nossa dimensão de
mortalidade.Como dizia a Tarsila, o importante é fazer as coisas com amor e
dedicação, com o máximo de aplicação e
concentração de energias; o resto, sucesso e reconhecimento incluídos, não
passa de acaso.Sempre como cartas enviadas sem expectativa de resposta.É tudo
mais ou menos como felicidade amorosa – se é que ela realmente existe, ainda
que eu não possa servir de referência – que não se expande ao infinito, reside
em momentos de felicidade pelos influxos de vida que se manifestam na vida.O
mesmo se dá na arte.
Daí que é difícil falar àquele jovenzinho ou jovenzinha que o
mais importante, pelo menos em arte, é se esforçar, estudar, aperfeiçoar-se no
sentido de crescer enquanto humano individual.Muito mais importante do que a
glória ou sucesso, porque esses serão
sempre transitoriedades como a vida de qualquer um.Sempre o acaso envolve tudo,
na corda bamba entre a vida e a morte, não se podendo ter certeza quanto a
nada, inclusive sobre o resultado de nossos esforços.
Podemos dizer que, se não nos trouxer
felicidade, isso pelo menos nos fará um pouco menos infelizes.Por isso, queira-se
ou não, talvez as dores dos grandes e dos pequenos artistas sejam as mesmas.E
tanto um quanto outro, como me disse um querido e valoroso artista já morto,
merecem respeito por isso: por fazerem o que gostam.Rodin também frisava esse
papel do artista na sociedade.Afinal, todo esforço humano , animado pelo amor e
norteado pela sabedoria e razão humanas, merece respeito.
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