quinta-feira, 6 de outubro de 2011

pensamentos setembrinos

So bre os conflitos na Inglaterra
Por que será que sou obrigado a ouvir baboseiras e vituperações contra os “baderneiros” europeus que queriam i-pads e outras maravilhas do consumo.O que queriam: que clamassem por revolução social?As pessoas sempre se movimentam a partir de desejos, sejam eles manipulados ou não.O menos consumista dos seres já está com seus mecanismos de desejos adestrados...ou poluídos.Afinal, o mundo é feito dessa coisa mesmo, desse tecido de necessidade e desejo que molda a interioridade do ser.O que parece banal e sem sentido pode já ter se transformado numa necessidade, por vezes criada pela dinâmica econômica de sobrevivência, pelas ideologias, pelo pensar do cotidiano, pela azucrinação de um filho que vive reclamando.Às vezes briga-se por pão, quando o assunto é fome; por saúde, quando doença e peste campeiam; ou por uma idiotia qualquer de consumo, quando se inculcou na cabeça de todo mundo que ela é importante para o status social.Será que alguém acredita que as massas insurretas em revoluções como a francesa ou a russa queriam transformar o mundo radicalmente?Acreditar em tal fato é superestimar a consciência coletiva espontânea das massas.Mas às vezes, brigar por ser fazer ouvir faz com que o protestante passe a acreditar em construir suas próprias idéias.E isso sempre é um avanço.Bem, para quem acredita em que a Humanidade pode avançar...

Não é preciso ser versado em teoria da relatividade para ver que o tempo é relativo mesmo.Tudo o que é vivenciado pontualmente é um tempo independente do tempo global, cronológico, que engloba tudo e decorre independente de nossa existência.Vivemos hoje na era do tempo imaginário, virtualizado, porque os mecanismos de comunicação  funcionam de acordo com relógios “abstratos”.Mas tem gente que teima em agir de acordo com relógio de sol.

     As pessoas são como as obras de arte: o que  vemos não é a “essência” e  sim a “aparência”, uma estruturação representativa de tensões e acasos fenomênicos, forjada por ritmos inapreensíveis, representados por símbolos ou ícones, regida por leis ainda a serem descobertas.Se é que serão descobertas.É sempre tão misterioso o que nos agrada quanto o que nos repulsa.

Dilema de artista: e se eu balancear bem as coisas  que faço sem sentir uma emoção profunda funcionando como motor  animador da criação?Ou seja, posso, usando o recurso técnico e a experiência, fazer algo equilibrado sem ser criativo, como posso fazer amor sem realmente amar.Acho isso bem inquietante.Não seria uma forma de desonestidade?

Há arte “bem feita”, equilibrada, bem confeccionada que pouco nos emociona.Assim como há arte “porca”, desleixada, que nos emociona, ainda que esse “desleixo” encerre em sem interior a busca de “equilíbrios”, os quais são a busca de comunicação emotiva.
É possível experimentar equilíbrio sem intensidade emocional, mas não é possível sentir intensidade emocional  sem equilíbrio.Se isso funciona para a arte, pode funcionar para a vida?Sei lá...As coisas surgem a partir de emoções brutas e não polidas que, organizadas por princípios e procedimentos sócio-culturais, acabam virando linguagem e ações; por sinal,  as mais imprevisíveis possíveis, porque não controlamos quase nada na vida.Ou pensamos controlar porque acreditamos em mitos e fadas, mesmo sem saber.

Nem sempre um artista de obra interessante tem personalidade interessante.Há muita gente interessante sem talento para mais nada que não seja ser interessante para os demais.O que, cá entre nós, já é algo de interesse para o resto do mundo.Porque o narcisismo, aliado à personalidade rasa, é a coisa mais desinteressante do mundo!

 Li, certa vez, um ensaio de Pound que falava sobre o "artista sério", no caso mais focado na poesia.Fiquei magnetizado com o quase sentido de missão colocado nessa reflexão.Lembrava de uma professora de matéria da Faculdade de artes(plástica) que falava que arte é coisa séria!Ainda acredito nela e, quem sabe por nunca por fé no próprio taco, acabei levando uma atividade artística "marginal" por muito, muito tempo.Não por romantismo mas por achar que só o que é bom merece ser mostrado.Seria ingenuidade, presunção?Sei lá...Mas o esforço foi grande, talvez sem os resultados compatíveis.Mas me ajudou a não entrar no jogo cruel desse mundo "velocífero".

 Ou seja: arte significativa só se for por necessidade interior, como bem dizia Kandinsky no "Sobre o espiritual na arte"(mesmo relevando-se o fato de sua personalidade extremamente mística e metafísica).Quem sabe com isso, possa-se cria um próprio "tempo", intangível, inatingível como um "tempo atemporal" que vi descrito num ensaio de Borges.
Para ser sincero, a ciência não me põe medo porque a verdade pode ser
dolorida mas é sempre uma luz, perto das trevas de medo instiladas
pelas diversas religiões(principalmente as ocidentais, derivadas do
judaísmo, como o cristianismo ou o islamismo).Acredito, como Platão,
Freud, Russell e outros sábios homens que iluminaram um pouco o medo
da vida e da existência doutrinado pelas imposições religiosas
externas ao meu ego e à minha vontade, no poder da razão para
contornar esse caudal de instintos irracionais que plasmam o  que nós
somos, para evitar desde as mais simples bobagens que fazemos no
cotidiano até as guerras.O ideal é que sejamos um templo para nós
mesmos, sem "intermediários" espirituais, com nossa própria mitologia
criada pelas nossas necessidades interiores; em, suma, quem sabe : que
sejamos um deus para nós mesmos.O conhecimento não destrói, por si
mesmo, mas sim sua utilização para fins egoísticos é que o faz.

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