quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Trump: o imponderável nunca é certeza

Sempre repito a máxima de Russell  que, psicologicamente, políticos profissionais são inconfiáveis por caráter, enquanto que, na prática, inconfiáveis pelo pragmatismo que os rege. Precaução e canja de galinha nunca fazem mal quando se envolve em política. Ou quando se fala dela.O estômago sente: os do que têm ou não têm o poder.Idealistas são figuras raras, mais afeitas a grande momentos da história, mais adequadas a outros campos da atividade humana, teoria, ciência, arte, etc. No final, os práticos e pragmáticos triunfam.Nem que para isso tenham que mentir.Habilidade bem desenvolvida por profissionais de várias áreas, principalmente a política.
    Aquilo que chamamos de democracia , desde a tradição grega até hoje, é sempre uma manipulação dos interesses a serviço de minorias que se beneficiam dos atos derivados dela. Funcionava de forma mais racional – justa, por assim dizer, tomando o termo justiça ao pé da letra-na ágora grega, entre os pares, a elite masculina e nobre, sem mulher ou cachorro presentes, já que aquela era tratadas por lá um pouco melhor do que o melhor amigo do homem.Há formas autoritárias ou tolerantes de se comportar com tudo na vida. Há regimes que são injustos mas não autoritários, assim como há regimes mais justos que são autoritários.Contudo, por serem autoritários já seriam injustos com os que desejam justiça e ponderação. Tem gente que não admite a última forma e com isso, às vezes são chamados de individualistas.Viver é sempre um estar em constante em conflito.
      Os políticos apresentam-se como “gerentes”.É uma contradição em termos alguém se apresentar como apolítico pleiteando cargo político.O discurso e estilo de Trump não são novos. Pega bem atualmente.Quando a fé desaparece, o fé descrente procura nova reza, novo credo ou sacerdote. Assim se fazem até revoluções.Ou involuções. Anabolismo e catabolismo fazem a vida.Nada impede que o conquistado a duras penas não se perca. Tudo é passível de retrocesso.Captar a alma profunda do ressentimento de pessoas, grupos, povos ou nações dá resultado. Hitler sabia bem disso.E toda prática não pode prescindir de ética, de uma ética construída a partir dos interesses comunitários.Isso define o que é socialmente melhor para a comunidade.Individualismo é sempre perigoso quando se coaduna com a administração do poder.Para outros campos de atividade humano ele é útil e necessário. Mesmo que vire anarquismo.
   O discurso de Trump não é tosco, é estudado. Tinha alvo e o atingiu.O contexto e irracionalidade do sistema econômico e social com isso colaborou.Elegância e beleza saem do padrão político atual. O jeito mal educado, grosseiro, brutal não é incomum na maioria da política institucional de várias partes do mundo. Tem repercussão boa na sociedade por esta ser cheia de boçalidade, falta de educação, recalque, frustração , auto-alienação, que fazem o grande tecido psicológica de parte substancial de populações , massas, do famoso Zé Ninguém a que se referia Reich.Ele,  Trump,como figura, é tosca, a essência de seu discurso é tosca.Mas ganha muita gente. O ressentimento é sempre a matriz do ódio.E o ódio sempre precisa de um outro.Sempre pode ganhar, essa é a verdade. Continuamos a subestimar certas coisas que podem crescer ou ganhar apoio. Em seus primeiros tempos, Hitler era visto por gente da elite econômica germânica, apenas como exótico, um palhaço. Depois foi adotado, bajulado por essa mesma gente.Coisas desconexas ou absurdas têm muito melhor acolhida do que sonha a nossa vã razão dentro da cabeça do homem comum, alienado, pouco consciente e que se sente humilhado, ameaçado.Ou pouco beneficiado pela riqueza que ele vê ao redor. Porque, inclusive, esse tipo é pouco afeito ao uso da razão.Acho até que a maioria dos seres humanos não é. Racionalidade apenas para sobrevivência imediata.Ora, fazendo o papel dele,  homem comum que se sente desvalido e injustiçado,  pensando com os dois neurônios desse homem, nada mais coerente para melhorar ou enriquecer do que seguir um cara rico, não é mesmo? Toda burrice tem uma coerência intrínseca com a realidade, social ou individual de caráter, que ela é.Daí a lógica de pobre votar em rico, no exemplo bem sucedido e agraciado pelo destino. Por sinal, norma do capitalismo.Na idade média havia o direito divino concedido por deus.No mundo moderno se repete por outro:  o deus do capital.Ou do sucesso, contraponto dos anseios frustrados, da ganância,  da ambição e do  egoísmo humano, esse  a  única verdade absoluta e incontestável, segundo as  palavras de Schopenhauer.
     Ave, Trump, a grande América que já morreu ética e  moralmente(faz tempo!!!) te saúda!
    Isso dito na grande arena dos mercados, do pão e circo com que se modelam as massas burras, manobráveis e sem consciência.E que nunca farão nenhuma revolução; farão sim a involução, se deixarem.
   Os deuses do capital têm mais sutilezas ou artifícios do que sonha a nossa vã filosofia  criada, palmo a palmo, pela ingenuidade nossa de cada dia....



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