domingo, 2 de outubro de 2016

BREVE REFLEXÃO SOBRE A TAL DE "PAULISTANIDADE"

SOBRE O LEMA DESSA CIDADE, APENAS POSSO DIZER QUE TAMBÉM NÃO SOU CONDUZIDO.MAS NÃO QUERO CONDUZIR PORCARIA ALGUMA
Sabem, a gente vive em microcosmos sociais, com aquelas pessoas ou grupos que achamos legais, com interesses ou gostos similares.Ou seja, vivemos particularidades em situações particulares, daí tomando o particular pelo mais amplo e universal.Um equivoco já que o particular encerra algumas características do universal, não é o geral ou o universal. O cara legal e aparentemente simpático que a gente vê no fim de semana num bar e numa festa pode , no fundo, ter pouca coisa a ver com você.Aquilo é uma situação de particularidade.A cidade e a população são muito maiores, complexas entidades e sistemas sociais confusos, amorfos, pouco definidos cultural ou ideologicamente e, pessoas mais abertas ou liberais não imaginam ou conseguem enxergar o universo nebuloso e sombrio escondido num caos metropolitano de ignorância e subserviência a existências médias absurdas e medíocres.Acontecem acidentes históricos de aberturas mais civilizatórias ou liberais.Mas são acidentes. No todo, a cidade é conservadora, a população resignada com a carência ou a estupidez.Além da evidente feiura, lógico.Quem se ilude nunca ousou desfazer o " véu de Maia" com que somos cobertos cotidianamente.A publicidade e o novo pelo novo acabam por triunfar.
No fundo, o triunfo da mesma velharia.Essa cidade é uma velharia disfarçada de modernidade.Provincianismo disfarçado de cosmopolitismo "primeiro mundista".Numa terra de onde ainda não nos livramos da psicologia da escravidão, da anuência com o espírito de casa grande e senzala.
Nossa arquitetura, por exemplo, em média denota muito disso, do caráter metropolitano presunçoso, sem coerência ou elegância..E ainda sobram as baboseiras dos bandeirantes, aquela fala do brasão municipal " não sou conduzido, conduzo", aquela parvoíce da paulistanidade, o abominável bairrismo subjacente..Já tive muito dessa anemia mental encrustada na cabeça, faz tempo, muito tempo; até quando , ainda jovem, comecei a ler e a refletir, a escapar do senso comum, desacreditar dessas mitologias paulistanas, a trair minhas origens de classe.Trair pode ser um exercício de libertação.Quem não odeia São Paulo no fundo não ama São Paulo.Mas, em algum momento, tudo tem um limite.
A tecnologia produz essa cosmetificação da realidade.Um candidato cosmetificado e amorfo, apadrinhado por um igualmente amorfo e medíocre governador, é perfeito para a turba deseducada, para a manada que trabalha, leva uma vida de merda e vota.E nem ao menos sabe que é turba.A não ser quando se digladia voltando para casa pelo metrô sempre entupido.
Ah, usando o jargão do brasão municipal , também não sou conduzido.Mas não intento conduzir ninguém.Porque essa cidade não conduz porra nenhuma, a não ser a si própria para um lodaçal urbano. Quando baixa um ar novo e leve, procura sempre o fedor.Por isso São Paulo merece o fedor do Tietê, outrora um poético e lamacento rio cantado pelo grande Mário.
Sim, o fedor apenas se consubstancia.Ampliado pelo idiota eleito de pulôver, depois , posteriormente, rejeitado pela inevitável decepção popular que surgirá..Depois, cidade parcialmente reconstruída, depois destruída.Não é uma fênix sempre renascida.Não passa de um urubu que se tinge de cores mais alegres.No fundo, vive mesmo em torno da carniça.

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