Somos como uma
construção, cujos alicerces são nossas derrotas e decepções. Somos erigidos a
partir de frustrações e sonhos, em sua maior parte irrealizados. Vivemos
querendo e , não podendo realizar o constante querer, vivemos sofrendo.E, por
sofrer tanto, lutamos para não sofrer.Com isso
continua-se vivo.Logo o sofrimento pode ser visto sob um ponto de vista
positivo.Felicidade é instante, qualidade, ilusão sobrevalorizada.Logo, não
podemos viver felizes o tempo todo.Isso seria idiotia, transformaria o que chamamos de felicidade num
sentimento doentio, negativo.Seria o mesmo que ficar o tempo todo drogado, uma
variante de idiotia.E idiotice porque a saúde e a vida são muito frágeis.Ilusão
de invulnerabilidade juvenil. Lidar com isso tudo e se manter vivo, manter a
vontade de estar vivo não é fácil; mas eu diria que é quase um impulso
biológico.E talvez a vitória que mais nos orgulhe não seja aquela que deu
resultado, mas sim o esforço para que houvesse resultado.No fundo, tal como diz
Camus no final de seu livro O Mito de Sísifo, o importante seja imaginar a
felicidade no meio da tarefa inglória.
Se, como dizia o poeta” nessa
vida ,morrer não é difícil, difícil é a vida e seu ofício”, temos sempre que
considerar que a vida em si implica administrar sofrimentos.Venham eles do
exterior( a natureza e os outros, sempre uma extensão do inferno existencial
sartreano) ou do interior(nosso corpo sujeito a doenças ou nossos traumas
adquiridos).Como manter a calma e o equilíbrio exige muita perspicácia vital.O
mundo não é feito para nos satisfazer, não somos o umbigo do mundo, ainda que a
cultura, a educação e o interesse de vender “felicidades” artificiais
imponham-nos a falácia existencial da felicidade.O prazer do guerreiro vem da
luta, daí que se honre tanto o derrotado oponente.No fundo, sempre nos resta
resistir.E existir.Fora disso, tudo é mistério.
Nossa cultura de felicidade
comprável nunca resolverá os grandes dilemas da existência.Por isso a dimensão
estética é tão vital, tanto do ponto criativo como contemplativo, seja para
artistas ou admiradores de artistas.Afinal, só a arte fica, além de crenças,
nações ou ideologias.
.Tudo é transitório,
inclusive qualquer forma de êxtase.O qual nunca existe sem agonia.Ou como diz a linda canção de Vinícius: tristeza não tem
fim.E não tem mesmo.Só mesmo na morte.Essa chega como mistério, apenas acrescentando
tons a mais na complexa composição pictórica da existência de qualquer um.Tristeza
e felicidade são as duas faces da mesma moeda.E nem ao menos temos certeza de
quem a joga, se é que realmente a joga.Seja ou não um jogo de cartas marcadas.
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