Pois é que
não tenho heróis, nem ídolos.Tenho homens que admiro, vivos ou mortos(muito mais mortos que vivos),obras
que admiro.Em geral, a obra quando grande vai além do homem, ganha o mundo e
faz parte dele.O que sobra é a universalidade da particularidade.Sobra
inconsciência, hipnotismo das pessoas, das massas, do mundo.Sobra muita
enganação, uma maneira de ser o que não
é,heroísmo ou idolatria de ilusão.O mundo não é uma ilusão, a não ser que haja
a crença de que nossa vontade o molda
segundo seus caprichos; a única ilusão é crer na imortalidade. Sobram cargas
genéticas, que serão desfeitas com o tempo, sobram ações, sobram ausências,
sobra o que se fala do amor, mesmo quando esse inevitavelmente morre.Tudo morre, sobra a
obra(quando há), sobram as atitudes e o presente- o qual, a partir desse
instante aqui já é passado- além do inacessível e ainda inexistente futuro.
Sobra o que se fala; e o que se fala nem sempre é verdade, sendo mentira na
maioria das vezes.Sobra a imagem da beleza que criamos no instante em que algo
se revela, talvez falsamente, como algo belo.Heroísmo é acaso, inconsciência desse
acaso além da vontade que diferencia,
idolatria é uma forma de se esquivar do peso da vida ou de sua imanente
mediocridade. O que existe e sobra são homens e mulheres, seus esqueletos que
um dia serão simples pó, como talvez tudo vire pó, perdido em meio a poeira das
estrelas.Sobram essas estrelas, sua luz que muitas vezes não passa
de energia de algo que não mais existe.Sobra o
silêncio e não a balbúrdia das idolatrias , além de descrições de heroísmo
que, muitas vezes, não passaram de simples humanidade de um instante.
Por ter tanta dúvida assim, como crer em
heróis ou ídolos?Prefiro ficar com minha finitude.A finitude de todo esse
mundo.A finitude de tudo quanto é herói ou ídolo.Pois, quando deles precisamos,
já nos perdemos de vez. Pois o que sobra é o amor e o ódio, cuja matéria acaba
construindo nossos dias.
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