Viver sem mulher é como conviver com uma espécie de morte em nossas vidas.Mas em alguns momentos é preciso algum tipo de renascimento sem que haja crucificação.Em essência somos mais primitivos do que imaginamos.Mas entre a cultura e o instinto há tanta distância quanto entre o indivíduo e a sociedade.O mundo mudou e todos os papéis foram , aparentemente, subvertidos.Contudo, o desencanto continua a fazer parte da espinha dorsal de nosso cotidiano.Viver é sempre uma tarefa que se renova a cada despertar; é um milagre acordar, olhar para o espelho e ver que ainda respiramos.Pequenas mortes se insinuam no dia a dia, em nosso corpo, em nossa alma.A craca que envolve a personalidade vai crescendo, dia a dia, enquanto a nau vai singrando o oceano vago da existência.Cada porrada é uma nova couraça escura que fende qualquer luz de esperança.As esperanças se alimentam pelos êxtases, temporários ou permanentes, coisa que o consumo vulgar não substitui, coisa que só o corpo em plenitude consegue apreender.Esgueiramo-nos da morte num passo a passo em direção ao mistério de se continuar vivo.A beleza feminina, até mesmo sua fragilidade-ainda que imersa em feiúra – é uma comoção que, se não satisfaz plenamente, pelo menos alivia a mente da obrigatoriedade de servidão aos instintos.Mas os tempos mudam, e essa masculinidade anacrônica não se encontra direito no mundo, ainda que a vida queira sua continuidade.Se fôssemos apenas células, estaríamos contentes em nos duplicar e morrer.Mas como somos um agregado mais complexo de células e processos físico-químicos, criamos a mitologia da individualidade que, em instância superior, vira cultura, civilização...e guerra, barbárie.
Olho ao redor e vejo essa multidão de formas e curvas que se espraiam em carnes e obséquios falsos, em trejeitos e falas indecisas e agudas e dizem-me que tais fenômenos da percepção se chamam mulheres.
Ao primeiro mau humor tenho vontade de matar um fulano, algo encarado com naturalidade, e me dizem que tal aparência fenomenológica atende pelo nome de homem.Como conciliar essas realidades de antípodas?Que função nesse mundo se mal sabemos realmente do que vem a ser feita aquilo que se chama de existência?Ereções e humores líquidos regendo a humanidade?A natureza é sombria e gosta de exercer um senso de humor duvidoso.Mas as descobertas de um acelerador de partículas de vinte e sete quilômetros pode quem sabe revelar alguma palavra divina.Mas o “olho que tudo vê” precisa de uma operação de catarata.Ou, quem sabe, não passe de um olho que pouco se importa em ver.Quanto a mim, restrinjo-me ao que meus olhos me revelam, nas formas imprecisas e sinuosas esquecidas no horizonte de um campo, de uma praia ou de um torso daquela misteriosa percepção fenomenológica- que continua a agudar a emissão sonora- que o condicionamento lingüístico me faz identificar como mulher.O resto é teoria.Mas como dizia um poeta: cinzenta é a teoria, verde é a árvore da vida.
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