sábado, 17 de março de 2012

 Paisagens no mundo há muitas.Belas, nem se fala.Mas quantas realmente nos sensibilizam?Posso imaginar a paisagem como algo que, mesmo sendo do universo, dele escapa por ser alguma coisa além de mera paisagem.Inútil o esforço de entendê-la, como inútil seria o esforço de entender uma mulher, entender o que se passa de contraditório no coração de qualquer ser humano.Uma paisagem , como uma mulher, não se traduz, apenas é.Todo o resto, todo o esforço se derrama em  desperdício, pois o que se tem é sempre a imagem da essência, nunca a essência.Por mais que palmilhemos por esta paisagem amada, jamais a teremos completamente, quem sabe apenas a sua projeção em nossa tela de desejos, em nossa teia de anseios frustrados, atrás de um eterno que não existe , embora por ele seja  subjugada toda a arrogância masculina.

Amor e arte uma reflexão

AMOR E ARTE

     Para mim tudo que não é sentimento não é vida.Amor e arte não existem sem sentir, coisa óbvia.Mas seria tão óbvio assim?Nosso mundo e nossa vida colocam controvérsias sobre tudo.Na modernidade há até artistas que objetivam quase abolir o sentimento em suas obras.Como há até aqueles que querem abolir o sentimento no amor.Esses últimos parecem estar sendo mais bem sucedidos no intento que os primeiros.A vida moderna colabora em muito para isso.
     O amor deixa de ser mero jogo quando se cria consciência da fatalidade da espécie que nos encerra dentro dele.A partir disso ele se torna destino.
     O amor banal é tático.O amor puro é estratégico.
     A arte banal é prática.A arte pura é sempre transcendente.
     Talento sem vocação de transcendência é energia humana desperdiçada.
     Talento com oportunismo acaba sendo de alguma forma aproveitado.
     Mas tanto o amor como a arte exigem que o talento inato se desenvolva.
     Tanto o amor como a arte nos levam a querer fugir de nossa condição usual de ser no mundo. A vocação de ambos é melhorar subjetivamente a limitação imposta pela realidade.A arte é o aprimoramento subjetivo da vida, concepção assumidamente idealista, sem dúvida.O amor é o aprimoramento objetivo da espécie.Como o gás que no vácuo ocupa todo o espaço que lhe for possível, também o amor e arte não podem ter limites, senão deixam de ser amor ou arte.Mas vivemos num mundo onde se tornou mais fácil engarrafar gases e outras coisas, onde  nos acostumamos com arte e amor meia boca.Não é difícil daí se depreender o tanto de infelicidade que cerca a condição humana, já que não podemos nos divertir caçando mastodontes, exceto em vídeo-game.
     Amor e arte não se realizam sem sofrimento.Amor e arte são a forma de ligação entre alegria e sofrimento.Não existe, portanto, amor ou arte sem consciência da morte.Os amantes morrem, o poema fica.Mesmo que o chamado humor seja o esqueleto disso tudo- e é fundamental o humor, mesmo que ele nos leve a auto-flagelação-, não há como escapar da efemeridade que o amor e a arte desenvolvem, já que nada é eterno.
     Amorosos e artistas são jogadores, brincam de sensações e formas, seja por diversão ou criação.E tanto no amor como na arte podemos criar ou simplesmente contemplar.Não temos posse completa sobre os elementos que os compõem.
     Ambos,amor e arte, fazem-nos  palhaços dos deuses, para livrá-los daquele tédio das alturas,embora nem pelo amor nem pela arte consigamos chegar ao Olimpo, dadas as nossas limitações físicas ou de vale-transporte.
     Amor e arte não podem prescindir de ritualísticas.Sua base tem substrato nos fenômenos da biologia.Para nosso desgosto, tanto a arte como o amor,enquanto experimentos biológicos, têm suas  práticas e leis indefiníveis pelos códigos e sintaxes de nossa razão.Por isso criamos sistemas imaginários ou delirantes para encaixar esses fenômenos dentro de nossa realidade.Padres, psicólogos,moral, família, críticos de arte e por aí vai um séqüito de expositores de regras que gostam muito mais de falar, às vezes, que fazer.Falar disso muitas vezes não passa de fugir do problema.No grande laboratório da vida, quando o experimento envolve amor ou arte, dificilmente conseguimos reproduzir as condições do experimento original.Inclusive nem se fazem mais maçãs como antigamente.
     A natureza não cessaria de existir sem o amor ou a arte dos homens.Mas os homens não seriam natureza sem o amor ou a arte.Daí que o homem é sempre condenado ao exílio no habitat de seus próprios desejos ou anseios.Eu acho que o tal do arquiteto supremo carece de técnica, desenha mal as coisas.Senão seríamos perfeitos e não precisaríamos melhorar a vida com a arte, nem comer maçãs estragadas todos os dias...ou meses, ou anos.



O  ARTISTA E A PUBLICIDADE

     Dentro das conquistas tecnológicas e culturais(?), podemos dizer que a publicidade é o viagra do artista contemporâneo.Não pode ocultar completamente a limitação daquilo que se julga de valor como criação natural.Mas ajuda o “espectador” a crer naquilo que lhe é apresentado como criação natural de valor.
     Quando Baudelaire escreveu os Paraísos Artificiais nem sonhava que algo parecido pudesse ocorrer no futuro.Outro dia li articulista afirmando que o viagra tinha contribuído mais para a humanidade que duzentos anos de marxismo.Exagero, sem dúvida, já que o marxismo nem ao menos tem duzentos anos.Mas vejo que o viagra dos artistas conseguiu em pouco tempo efeitos mais devastadores  que duzentos anos de mentalidade acadêmica.Afinal: chegará o tempo em que se amará ou se contemplará  às custas de viagras?